sábado, 27 de junho de 2009

A EXISTÊNCIA DO PRINCÍPIO VITAL

A inteligência humana, raciocinando legitimamente, pode chegar a depreender a existência de um princípio vital em todo ser vivo, chamado vulgarmente alma. Tal princípio é imanente, intrínseco ao ser vivo.

Como, pois, se depreende a existência de tal princípio? Considerando as funções características de todo e qualquer ser vivo. Apesar de até hoje nenhum filósofo ou sábio ter apreendido a essência da vida ou sua estrutura íntima, no entanto é certo que esta distingue-se por duas manifestações inconfundíveis, a saber:
. Auto-regulação. O organismo de qualquer vivente é composto de variados elementos químicos - hidrogênio, oxigênio, cálcio, carbono, ferro, zinco, etc. Estes diversos elementos, porém, não se comportam idependentemente uns dos outros, agindo isoladamente, como quando se encontram na natureza, mas suas reações específicas são coordenadas e dirigidas para a conservação do conjunto do organismo a que pertencem. As funções parciais - da célula, do tecido, do órgão - num ser vivo, por múltiplas que sejam, são devidamente concatenadas entre si, de modo a realizar uma única grande função e a servir a um único sjueito.
Deve-se mesmo dizer que uma das notas mais típicas do ser vivo é a unidade. Analisando um ser não vivo, como, por exemplo, uma rocha, ao se quebrar e se pulverizar, guardará, no entanto a estrurura de rocha, de pedra, característica em cada um dos fragmentos resultantes do bloco; cada qual ainda será pedra. Ao contrário, quando se corta uma rã ao meio, não se pode pensar que ficarão duas metades de rã ou uma rã em duas metades, pois, em breve cada uma das partes separadas irá perdendo o seu funcionamento e a sua realidade de rã, entrando em decomposição, e finalmente tornando-se poeira. Donde se conclui que o ser vivo não existe senão em sua unidade característica ou em sua organização típica, só tendo cada parte sua razão de ser em vista do todo ou dentro do todo.
Um outro exemplo que nos permite bem avaliar a unidade do ser vivo é no tocante à alimentação. O ser vivente não ingere qualquer outro ser, mas, antes, escolhe no seu ambiente o que lhe convém e elimina o que não lhe serve: nutre-se, por exemplo, de verduras, frutas, laticínios, carne, de tal modo, porém, que após a digestão esses alimentos estejam convertidos na estrutura do ser vivo. Aquilo que não pode ser assimilado, o que quebraria a unidade do organismo, é simplesmente lançado fora, segundo sábio processo de metabolismo.
Mais ainda: verifica-se que qualquer lesão infligida a um ser vivo afeta em certo grau o organismo inteiro. Cada uma das funções deste é de algum modo mobilizada para reparar o dano sofrido por um só órgão.
Tais fatos levam a concluir que em todo ser vivo existe um princípio de auto-regulação, isto é, um princípio que dirige as funções particulares dos respectivos componentes, imprimindo finalidade superior a cada uma delas; é esse princípio que torna possível a existência de um grande todo, que não é simplesmente a soma dos seus ingredientes - não é mero agregado de oxigênio, hidrogênio, ferro, cálcio, sódio, etc -, mas é realidade nova: é uma roseira, um cão, um touro, um corpo humano, etc.
. Proliferação. Outra propriedade dos seres vivos é a faculdade de reprodução de si mesmos. O vivente não se limita apenas a existir, mas tende também a se expandir e a se multiplicar, produzindo descendentes da mesma natureza que os genitores. Em uma palavra, podemos dizer que todo ser vivo desprende de si células germinais capazes de perpetuar a espécie à qual ele pertence. Já que o mineral não realiza tal função, diz-se que isso é característica dos viventes e supõe, por isso, um princípio intrínseco de atividade capaz de coordenar e subordinar as atividades dos minerais que compõem o organismo vivo.
DISTINÇÃO DOS PRINCÍPIOS VITAIS
Estabelecida a existência de um princípio vital em cada ser vivo, faz-se necessário frisar que nos irracionais - plantas e animais infra-humanos - esse princípio é material, pois suas funções - vegetativas, na planta; vegetativas e sensitivas, no animal - estão estritamente ligadas aos órgãos corpóreos e a objetos concretos. A planta, por exemplo, se nutre "deste" conjunto de minerais, "aqui e agora" existentes; o cão vItálicoê "este" ou "aquele" objeto determinado que se tornará sua presa, ouve "tal" ruido concreto que o estimula, etc. Ora, a atividade de um ser é a expressão da sua estrutura ou da sua essência - agere sequitur esse. Por conseguinte, atividade limitada pela corporeidade implica essência limitada pela corporeidade, ou seja, essência ou princípio vital corpóreo. É o que leva a raciocinar que o princípio vital da planta e do animal irracional é material ou corpóreo.
Já no homem, ao contrário, o princípio vital não é material, mas imaterial, ou seja, espiritual, pois, a vida do homem tem afirmações que transcendem os limites da matéria, do concreto: o homem pode não somente adquirir o conhecimento "deste" ou "daquele" objeto bom, belo, forte, justo, sábio, mas por sua inteligência chega a conceber mesmo a noção universal da Bondade, da Beleza, da Fortaleza, da Justiça, da Sabedoria. Consequentemente, conclui-se que dentro do homem o princípio de atividade ou vital transcende a matéria, isto é, é imaterial ou espiritual.
Esse princípio vital espiritual - chamado também alma humana - preenche simultaneamente as funções da vida intelectiva, da vida sensitiva e da vida vegetativa.
Voltaremos ainda neste assunto em breve.
Paulo Barbosa.

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