terça-feira, 10 de abril de 2012

DEMOCRACIA E FILOSOFIA


A DEMOCRACIA é o sistema de governo no qual a legalidade tem expressão no reconhecimento da igualdade de direitos para todos, onde as funções máximas da administração pública são exercidas por delegações diretas ou indiretas da massa dos cidadãos. Pode-se afirmar que, basicamente, a característica fundamental de tal forma de governo é a desindividualização do poder, ou seja, o poder não estar concentrado num único indivíduo.

Historicamente a Democracia nasceu na Grécia, no século VI a.C., com Clístenes, que assumiu, em 507 a.C., o governo de Atenas realizando um vasto programa de reformas políticas, onde todos os homens livres passaram a ter direito de participar na política, nascendo daí o cidadão portador de direitos e deveres para com sua pátria. Este sistema político concedeu, portanto, aos gregos, em relação aos demais povos orientais, o benefício da liberdade política. Os homens orientais estavam submetidos cegamente a uma obediência tanto ao poder religioso quanto político, enquanto o grego, graças à democracia vigente, que criou institutos políticos livres, gozava de uma situação privilegiada.

DA OLIGARQUIA À DEMOCRACIA

Antes mesmo de se instalar a democracia, a Grécia passou por uma verdadeira transformação socioeconômica nos séculos VII e VI a.C., deixando de ser um país estritamente agrícola para, aos poucos, desenvolver o comércio e o artesanato. Com isso, vários centros de distribuição dos produtos fabricados foram fundados, inicialmente nas colônias jônicas, sobretudo em Mileto, cidade da Ásia Menor. Tais lugares tornaram-se empórios, ou seja, praça comercial de grande importância, acarretando, então, grande crescimento populacional. Os novos ricos, comerciantes e artesãos, aos poucos, alcançaram bastante força econômica e começaram a se opor ao poder concentrado nas mãos da nobreza fundiária. Esta luta culminou com a transformação da velha aristocracia em novas formas democráticas, onde o amor da liberdade individual predomina. É o nascimento da Democracia.

A Filosofia, que é a ciência que tem por objeto de estudo a totalidade das coisas, o 'todo', 'toda a realidade', usando um método racional, nasceu neste ambiente propício de liberdade individual trazido pela nova forma política. Nasceu nas colônias, e não na pátria-mãe, a Grécia. Tanto que o primeiro a ser considerado filósofo é Tales, da cidade de Mileto, na Ásia Menor. Logo em seguida, floresceu nas colônias da Itália do sul. O motivo pelo qual a filosofia nasceu nas colônias e não na Grécia mesma, é que foram nelas, colônias, que primeiramente se deram aquela situação de liberdade pessoal, de bem-estar, construindo, assim, instituições livres antes mesmo que a mãe-pátria. Após o surgimento e florescimento colonial, passou para Atenas, onde filósofos da nomeada de um Sócrates, Platão e Aristóteles, a elevou ao mais alto cume. 

Em resumo, somente com as condições sociopolítica e econômica trazidas pela democracia grega foi possível o nascimento e desenvolvimento da filosofia. A Democracia é causa da Filosofia, podemos afirmar.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

SERVIDÃO É DIFERENTE DE ESCRAVIDÃO?

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Anônimo Lucas disse...

Só uma pequena correção: 
A palavra que St Tomás utiliza é servo, que é diferente de escravo. A escravidão (privação total da liberdade) St Tomás condena. 
Pode-se observar como ele utilizava a palavra "servo" neste link: http://www.corpusthomisticum.org/sth3057.html
15 de dezembro de 2011 01:14



Caro Lucas,
Apesar da atual distinção entre servo e escravo, o que Aristóteles e Tomás de Aquino defendem é a existência de pessoas naturalmente dispostas ao serviço de outras, sem, claro, perderem completamente a sua liberdade. Fica a liberdade interna, a mais autêntica  de todas. Aliás, estes dois mestres tinham em vista a escravidão da Antiguidade, seja entre os Hebreus ou na Grécia ou em Roma, bem diferente da que ocorreu na Modernidade com os povos africanos. Tais homens na Antiguidade podiam cair na escravidão de duas maneiras (segundo os mestres acima) pela natureza, como se disse, ou mediante uma guerra vencida. 
Depois, a questão filológica não abona esta distinção artificial, pois se você analisar o verbete ESCRAVIDÃO num dicionário de Português-Latim, verá que na língua do Lácio tal verbete é vertido por SERVITUS, UTIS (ou seja, aquilo que é exercido pelos servos). Autores há que distinguem a servitus do famulatus, sendo a primeira absoluta e por isso repugnante à razão, enquanto o famulatus seria uma escravidão mitigada por os escravos fazerem parte da família. Porém, filologicamente não se sustenta. O que Santo Tomás defende é que o serviço prestado a outrem mediante o servus seja mitigado e não absoluto a ponto de se constituir em simples objeto ou bem do senhor.
Tito Lívio, autor na era pós-clássica da Literatura Romana, para traduzir "LIBERTAR-SE DA ESCRAVIDÃO', assim escreveu: "SERVITUTEM EXUERE", e César, para traduzir "REDUZIR À ESCRAVIDÃO", disse: "IN SERVITUTEM ABDUCERE".
Para você ter uma noção mais específica, veja o que o Dicionário de Sinônimos Latinos, de H. Brunswich, revisto pelo Dr. João Manoel Corrêa, Porto, 1893, diz sobre os termos usados para expressar escravo e ajudante:
Primeiramente, que ESCRAVO pode ser expresso por SERVUS, FAMULUS, ANCILLA, SERVA, MANCIPIUM, VERNA, MINISTER e ADJUTOR, podendo estes dois últimos ser escravos ou livres:
"SERVUS designa o escravo sob o ponto de vista jurídico ou político;
FAMULUS designa o escravo sob o ponto de vista patriarcal, isto é, como fazendo parte da família;
MANCIPIUM designa o escravo sob o ponto de vista econômico, isto é, considerado como propriedade ou como mercadoria - (Este seria o termo mais apto para traduzir ESCRAVO no sentido que você objetou, ou seja a escravidão moderna, com os africanos);
ANCILLA no uso ordinário é considerado como o feminino de SERVUS, pois os bons escritores não usam da palavra SERVA senão em certos casos jurídicos ou  que se baseiam em algum ponto do direito;
VERNA designa o escravo que não foi comprado, mas que nasceu em casa - (É daqui que vem VERNÁCULO, a língua de casa, da pátria);
MINISTER é o criado considerado só pelos serviços que presta, seja livre ou escravo, e o ADJUTOR é o que ajuda, o ajudante, também livre ou escravo".
Por fim, veja o que Deonísio da Silva, professor de língua portuguesa e membro da Academia Brasileira de Filologia, no seu livro "De Onde Vêm as Palavras" escreve sobre o assunto:
"ESCRAVO veio do médio grego sklábos, eslavo, passando pelo latim medieval sclavu. Era comum os vencedores levarem os vencidos à escravidão, mas o termo escravo consolidou-se com tal denominação depois que o imperador Carlos Magno submeteu os povos eslavos, fazendo com que trabalhassem de graça. Na língua de tais etnias, estabelecidas no leste europeu, eslavo significa brilhante, ilustre. Até então, as palavras latinas para designar escravo eram famulus, servus e mancipium". 
Por aqui se vê que o termo escravo/escravidão são tardios, criados a partir de uma realidade histórica específica. Já o termo SERVUS é um particípio do verbo latino SERVO, AS, ARE, que significa CONSERVAR. Servus é aquele que foi conservado numa guerra, que não foi morto, e por isso, foi aproveitado para prestar serviços ao vencedor. Refere-se, pois, ao 'escravo', conforme vimos acima, no sentido político ou jurídico.
Enfim, usando Santo Tomás SERVUS não quer dizer que não possa ser traduzido por ESCRAVO no sentido que entendemos, de um ser humano submetido a outrem para prestar serviços. O que Tomás defende, entretanto, é que esta escravidão seja mitigada e não absoluta.

Paulo Barbosa

domingo, 20 de novembro de 2011

HU SHIH, PENSADOR ANTICOMUNISTA CHINÊS DO SÉCULO XX

HU SHIH, nascido em 1891 e morto em 1962, foi pensador e historiador chinês do século XX. Estudou na Universidade de Columbia com Dewey e introduziu o pragmatismo na China. Durante a Segunda Guerra Mundial  exerceu o cargo de embaixador da China nos Estados Unidos e mais tarde presidiu a Academia Sínica em Taipé. Foi um grande propulsor do movimento vernáculo na literatura chinesa. Em 1919, publicou a primeira história da filosofia chinesa escrita sob ponto de vista moderno, a História antiga da filosofia chinesa.

Hu Shih defendeu com veemência a modernização geral da China, ou seja, a sua ocidentalização, tendo sido um reformista dedicado ao ideal democrático, e por isso mesmo, inimigo do comunismo durante toda sua vida.

Paulo Barbosa

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

AVISO AOS ESTUDIOSOS

Não estou respondendo, por agora, a e-mails sobre questões quaisquer ligadas à filosofia ou cultura geral, pois meu foco está voltado para a língua e cultura latinas [topicosdelatinidade.blogspot.com]. Com isso, penso também ajudar aos necessitados, que terão de forçosamente começar a pensar um pouco e tirar as conclusões por si mesmos.

Abraços,

Paulo Barbosa.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

TOMAS MORE



Em qui, 20/10/11, Mone Jardim <mone@hotmail.com> escreveu:

De: Mone Jardim <mone@hotmail.com>
Assunto: RE: Rosseau
Para: paulotomista@yahoo.com.br
Data: Quinta-feira, 20 de Outubro de 2011, 23:52

Boa noite, Paulo, mesmo sabendo o quanto você é ocupado, será que você tem um tempinho a mais para ajudar essa professora atrapalhada?
O que você poderia me falar dessas questões:
O entendimento das idéias de more no contexto de sua época, a alusão de pelo menos um ponto da realidade brasileira e uma da realidade mundial e a análise
comparativa entre idéias do autor e a que você colocou como realidade atual.
recorro a você, pois sei que és um expert  no assunto e estudioso como poucos.
Se puder me dar mais essa ajuda, ficarei muito grata...
Abraços carinhosos.
Simone.


Cara Simone, Boa Tarde!

Em primeiro lugar quero retificar sua inicial proposição afirmativa, quando diz que sou muito ocupado. Não sei quem lhe disse ou passou tal informação, mas não é verdadeira. Não sou ocupado, sobretudo muito ocupado, coisíssima nenhuma. Aliás, sou bastante desocupado, passando a maior parte do dia num ócio produtivo, buscando o alimento do espírito, a ciência e a sabedoria, únicas realidades que realmente reajustam o homem no corpo e na alma. Nisto, sou fiel discípulo do mestre Pitágoras, que propugnava para si e seus sequazes o 'bios theoretikos', a vida teorética, contemplativa, isenta no máximo das preocupações materiais, dos exercícios físicos que afadigam o corpo e atrapalham, portanto, a concentração da alma, da inteligência. "Deus nobis haec otia fecit" (É um deus que nos deu esta felicidade).

Quanto ao seu questionamento, se é que se trata do chanceler do Rei Henrique VIII,TOMAS MORE, este viveu num período marcado pelo surgimento das várias nacionalidades (séculos XVI/XVII) e, consequentemente, a quebra da hegemonia temporal do Imperador e espiritual do Papa sobre uma Cristandade coesa, unida.

A obra política de More é chamada UTOPIA, palavra grega que significa NENHUM LUGAR, e nesta idealiza uma ilha totalmente antagônica aos defeitos (reais e supostos) de sua época. Por exemplo, no século de More havia já o acúmulo de riqueza nas mãos de poucos. Contrapondo-se a isso, defendia a abolição da propriedade privada, ou seja, propunha um comunismo de bens, onde todos tivessem acesso a tudo de acordo com suas necessidades. [Já viu ou ouviu algo semelhante em algum lugar, partido político ou movimentos sociais?]

Esta premissa - comunismo total - levou, consequentemente, a outra, que é o igualitarismo, isto é, todos os cidadãos são iguais perante a lei, sem distinção hierárquica alguma, com o fim do instituto do privilégio. [E esta asserção lhe é familiar?]

A liberdade religiosa, também, figura entre os direitos do homem utópico, ou do habitante desta ilha paradisíaca de nenhum lugar. Qualquer religião serve ou mesmo a ausência dela, pois não existe um sistema religioso consentâneo à razão humana e ou divinamente revelado. [Porventura nunca leu ou ouviu tal proposta vinda, por exemplo, da CNBB? Ou do padre de alguma paróquia por onde passou?].

Uma proposta excelente, entretanto, existe na fabulosa teoria de estado moreana, que é o trabalho de apenas 6 horas por dia, e isto a fim de que o homem possa ter tempo para estudar, cultivar o espírito, enobrecer-se no melhor que possui, a inteligência. [Esta nunca ouvi nem li em nenhuma proposta governamental ou partidária, pois o homem se tornaria crítico e audaz. Melhor deixar como está... semi-alfabetizado, e claro, funcional apenas].

Para concluir, e para te fazer pensar um pouco, Simone, este país ou ilha idealizada por More se chama:

UTOPIA, que quer dizer, EM NENHUM LUGAR. Sua capital é

AMAUROTO, isto é, EVANESCENTE, onde passa o rio

ANIDRO, a saber, SEM ÁGUA. E seu governante chama-se

ADEMO, ou seja, SEM POVO. 

Quanto a relacionar as ideias de More com pontos da realidade brasileira ou mesmo mundial, creio que não te será difícil, pois você é um ser pensante ( não é? ). Então fica fácil.

Abraços cordiais e disponha.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

JEAN-JACQUES ROUSSEAU



Em seg, 17/10/11, Mone Jardim <mone...@hotmail.com> escreveu:


De: Mone Jardim
Assunto: Rosseau
Para: paulotomista@yahoo.com.br
Data: Segunda-feira, 17 de Outubro de 2011, 17:10


Boa tarde, Paulo, além de pedagoga, pós graduada em educação especial, estou cursando a faculdade de direito, e gostaria de saber a sua opinião sobre qual a importância de Rosseau na nossa política atual ou na política em geral. Você pode me ajudar?
Grata.
Simone.



Cara Simone,

Boa Noite.

Rousseau é o denominado o 'pai dos tempos modernos', sobretudo, o ' pai da educação moderna', tendo influenciado desde Basedow e seus discípulos, passando por Pestalozi, Herbart, Froebel, Tolstoi, Helena Key, Gurlitt e tantos outros.

Era adepto de uma corrente pedagógica denominada Naturalismo, que dentre tantos princípios, professa uma concepção demasiado otimista da natureza humana, ou seja, que o homem é, por natureza, um ser bom, produzindo, então, como consequência, uma pedagogia ou educação negativa, contrária aos castigos e punições para com os errantes, e claro, a destruição da autoridade.

Com base nesta bondade natural do homem, denominada o mito 'do bom selvagem', sustenta Rousseau, em política, que a sociedade é corruptora do homem, ou seja, que as artes, as letras, a ciência, adulteram o homem, transformando-o em ser arrogante, soberbo, confiado em extremo em seu saber.

Os homens que se corromperam pela sociedade, porém, podem ser redimidos, salvos, e esta redenção está na renaturalização do homem, ou seja, na recuperação de seu mundo interior, na busca do profundo e na fuga das aparências, no contato maior com a natureza, com a mãe terra, no retorno ao tribalismo, no contato vital com as energias cósmicas. Ora, onde encontramos esta agenda em nossos dias, na política atual? Nos defensores do ecologismo extremo e nos ideários de vários partidos políticos, todos alinhados ao dogmatismo rousseaniano do mito do 'bom selvagem'.

Outra influência do genebrino na política atual, mundial e doméstica, é a teoria de que a desigualdade social é fruto do direito de propriedade, já que os bens naturais deviam ser comuns a todos, num comunismo igualitário imperante. Esta teoria encontra-se no "Discurso sobre a Desigualdade". Encontramos exatamente esta ideia como mola mestra dos partidos políticos atuais, sobretudo os de esquerda.

A socialização radical, outra doutrina política de Rousseau inserida no seu "Contrato Social",  é a passagem do estado natural, onde os instintos imperam, para o estado social, onde  a razão predomina, mediante o pacto de todos os homens entre si, renunciando aos seus interesses privados em favor do bem comum, bem este que provém da vontade geral.

Ora, tanto a socialização quanto a vontade geral, ou seja, o desejo da maioria ao aprovar ou eleger, são bem patentes no cenário político internacional e nacional. Isso não é mera coincidência. É Rousseau na veia.

Disponha sempre.

Paulo Barbosa.