quinta-feira, 25 de junho de 2009

A ARTE: SUA FINALIDADE E OBJETO. REALISMO OU IDEALISMO?

Arte é a soma das regras diretivas na concepção do belo invisível ou ideal e na sua expressão mediante sinais ou imagens sensíveis. É a execução prática de um ideal.

Possui um fim a arte e este é duplo:

Fim próximo é a própria expressão do belo, distinguindo-se desta maneira tanto da ciência quanto da ética, que têm por objeto a verdade e o bem respectivamente.
Fim último é a perfeição moral do homem, conforme ensina Santo Tomás de Aquino, que "todas as ciências e artes ordenam-se a um único fim, a saber, a perfeição do homem" (In Met. Arist., Proem.).
O objeto da arte é e não pode deixar de ser o belo enquanto se exprime por uma forma sensível.
Mas, o que deve o artista fazer para reproduzir sensivelmente o belo? A arte é uma imitação da natureza e tudo aquilo que repugna à natureza não pode ser belo. Ao considerarmos as coisas naturais chegamos a conclusão de que são compostas de dois elementos, a saber, do elemento visível e do elemento invisível, de matéria e de forma. A forma não pode ser mostrada por si mesma, mas mostra-se nas irradiações da atividade do ser, ou seja, a ação de um ser demonstra sua forma. Uma obra de arte deve também seguir este mesmo padrão, deve ter uma forma invisível, um ideal por si transcendente e ter uma imagem que dê corpo a essa forma, ter um sinal sensível através do qual transluza e se manifeste o ideal.
Onde encontra-se o ideal? Na sua perfeição absoluta encontra-se unicamente em Deus, e este ideal divino tem o seu reflexo na criação. O artista, ao imitar a natureza, imita o próprio Deus. É neste sentido que Dante exclamou (Inferno, XI) que a arte é neta de Deus, pois a natureza é filha do Criador.
O ideal divino, o arquétipo soberano nem sempre é reproduzido fielmente nas obras da natureza, pois o sinal sensível, o elemento material é. muitas vezes, defeituoso. Deve, portanto, o artista, primeiramente, conceber o ideal abstrato, tipo de uma obra perfeita, e este ideal é concebido a partir da contemplação da natureza, enquanto, descobrindo na criação variados elementos, escolhe os que lhe servem, combina-os em ordem ao seu fim, produzindo desta maneira um tipo de beleza, chamado ideal, porque só existe na inteligência humana e não na relidade. Desta maneira o artista idealiza o real. O artista é transportado para o campo da idealidade movido pela tendência natural do nosso espírito para o infinito, e, depois de idealizar o real, deve realizar o ideal, e esta realização se perfaz escolhendo as formas sensíveis - linhas, cores, sons, imagens, - que mais eficaz e vivamente o exprimem e representam, de modo que possamos contemplar, através destas formas o ideal e provar as emoções que o próprio artista provou.
Desta forma vemos que a arte é uma interpretação, uma idealização, uma transfiguração da natureza, e por esse motivo, suas obras devem ser mais perfeitas e mais belas que as da natureza.
Do que fica dito, devemos dizer que o artista verdadeiro, autêntico, não pode ser nem exclusivamente idealista, nem exclusivamente realista, mas deve seguir um idealismo mitigado. Não pode o artista imitar servilmente a natureza, imitá-la nas suas imperfeições e deformidades, causadas pelas ações das causas segundas, pois, se assim tivesse que ser, as belas artes, em vez de representarem o belo que tem como objeto, representarão o disforme; em vez de causarem agrado, causarão desgosto, como muitas obras ditas de arte em nosso tempo. O grande artista Rafael Sanzio pontificou que o pintor deve representar as coisas, não como a natureza as fez, mas como devia fazê-las, pois a arte é e não pode deixar de ser uma interpretação ou transfiguração da natureza.
Paulo Barbosa.

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