quinta-feira, 23 de julho de 2009

A DISTINÇÃO ENTRE ESCOLÁSTICA, SANTO TOMÁS E TOMISMO

Não se deve confundir, como muitos o fazem, Escolástica, Santo Tomás de Aquino e Tomismo, pois sempre existiram escolásticos divergentes tanto de Santo Tomás quanto do Tomismo.
Escolástica é o nome que se dá à filosofia e teologia ensinadas nas escolas da Idade Média e saídas da tradição destas mesmas escolas. Caracteriza-se fundamentalmente pela certeza vivida e professada do acordo entre a Revelação e a razão, opondo-se ao fideísmo e a algumas filosofias pagãs; pela aceitação de dados fundamentais do conhecimento e da experiência humana; pelo respeito profundo aos grandes mestres da Humanidade: Aristóteles, em filosofia, Santo Agostinho e os Santos Padres, em teologia; enfim, pela procura de objetividade e de realismo, muitas vezes bastante longe da subjetividade de certas filosofias modernas.
Santo Tomás de Aquino (1225-1274) é o grande doutor da Escolástica, devendo este nimbo de glória à tranquila segurança e calma do seu gênio, à profundeza luminosa, à amplidão magnífica e claríssima de sua obra. Rompe com todas as doutrinas que destoam dos princípios fundamentais do realismo aristotélico e inaugura na Escolástica o verdadeiro peripatetismo, compreendido por ele, corrigido e aperfeiçoado com um gênio não inferior ao do estagirita. Sua síntese tem como caráter a unidade, uma coesão doutrinal não existente em nenhum outro sistema escolástico, e seu método é o analítico-sintético, onde nem se desprezam os contributos da experiência e nem se rejeitam os princípios da razão. É, Santo Tomás, o verdadeiro artista da síntese, pois diz muitas coisas, e acertadas, em tão poucas palavras.
Tomismo é uma doutrina e um método. Enquanto doutrina é o aprofundamento que alguns discípulos de Santo Tomás deram ao seu ensino, penetrando a sua doutrina e acrescentando interpretações próprias. Desde a morte de Santo Tomás há uma plêiade de tomistas. Já no século XIV há de referir, entre muitos outros, Thomas de Sutton, dominicando inglês, mestre de Oxford; Nicolas Trivet, dominicano, também de Oxford; Guilherme Peyre de Godin, dominicano francês, professor em Paris e Avinhão; João de Nápoles, mestre em teologia e professor em Nápoles.
No século XV, surge o grande tomista, denominado Princeps thomistarum, João Capreolo, autor dos "Libri IV defensionum divi Toma de Aquino". Os séculos XIV e XV são denominados da "Primeira Escolástica".
No século XVI, época em que ressurge o tomismo com grande repercussão nos centros de estudos de Portugal e Espanha, se tem a chamada "Segunda Escolástica", onde aparecem nomes famosos e célebres como Tomás de Vio, Caetano (1469-1534), bispo de Gaeta, Itália e cardeal, insígne comentador da Suma teológica; Francisco Silvestre de Ferrara, o Ferrariensis (1474-1527), comentador da Suma contra os Gentios; Francisco de Vitória (1492-1546), pai do direito internacional e comentador da Suma teológica; Melchior Cano (1509-1560), foi aluno de Vitória, autor do "De locis theologicis, libri XII", estudo dos lugares e fontes dos quais devem-se extrair os argumentos para a demonstração em teologia; Domingos Soto (1496-1560), grande amigo e colaborador de Vitória na restauração da filosofia e teologia, apesar de não ser um tomista ortodoxo, afastando-se da escola em algumas questões, como na que concerne, por exemplo, à distinção entre essência e existência.
No século XVI, o grande tomista é o dominicano português João de Santo Tomás (1589-1644), professor em Alcalá, muito conhecido pelo seu curso de filosofia tomista, onde estão reunidas as suas obras.
O Tomismo enquanto método é o mesmo que o da Escolástica, ou seja, o analítico-sintético, mediante o qual se discerne num todo complexo o que lhe é essencial e acidental, dividindo-o em primeiro lugar e logo após compondo esse mesmo todo numa organização sintética unificante. O espécimen mais notável desse método é a Suma Teológica de Santo Tomás.
Paulo Barbosa.

Nenhum comentário: