sábado, 4 de julho de 2009

ESSÊNCIA E EXISTÊNCIA

O objeto próprio e proporcionado da inteligência humana é o ser enquanto revestido de sensibilidade - ens concretum quidditati sensibili. Este ser, conteúdo da captação intelectual, é possuidor de dois aspectos distintos implicados necessariamente, essência e existência. A primeira é concebida em ordem à segunda, e a segunda, a existência, exige ser determinada por uma essência. São dois aspectos inseparáveis com que o ser se nos manifesta em sua unidade compósita.
A essência de um ser é o objeto da primeira operação mental do espírito, a simples apreensão, e significa a simples aptidão para a existência, para o ser (esse) propriamente dito, sendo sempre medida e definida em função do ser, do esse. É a essência 'aquilo que pode existir', o que tem possibilidade de adquirir o ser. Conhecemo-la mediante a definição real de algo, como por exemplo a definição "animal racional" em ralação ao homem diz qual a essência de todo e qualquer homem, atual, pretérito e fututo. Toda essência autêntica é possível, e é capaz de sair da possibilidade e passar à existência, enquanto uma essência contraditória, impossível, como por exemplo, um círculo quadrado, uma pedra que pensa, é apenas um nada de essência, uma ficção, pois "não pode existir".
A existência, ou ato de ser (actus essendi), é o termo, o fim do pensamento, é o objeto para o qual em primeiro lugar e por si mesmo a inteligência humana se orienta, se dirige, pois tudo o que apreende é ser, e é realizada na segunda operação do espírito humano, o juízo, visto ser nele que é apreendida, não mais como indicada ao espírito ou significada, mas como exercida, como atual e possivelmente, por um sujeito.
A existência atual, exercida, nunca pode aparecer como predicado, como qualidade de um ser, pois ela é o próprio ser, unida a essência e com esta compondo uma totalidade.
A essência dos seres finitos é, como vimos, potência para existir, capacidade para receber o ser, e somente possui o ato de existir (actus essendi) por participação no ato de quem lhe concede, e este que concede o ato de ser a uma essência finita, por sua vez, não pode receber o ato de ser de outrem, visto não poder ir-se até o infinito, mas tem que possuir o Ser por si mesmo, não participado, sua essência e seu ato de ser devem se identificar. Este é Deus. O fato, pois, de os seres criados, não possuirem o ser por si mesmos, mas participarem do ser, recebendo-o extrinsecamente, é mostra cabal e racional da existência de um Ser que é Ato Puro, que não necessita de receber nada de fora, mas possui em si e essencialmente todas as perfeições.
Paulo Barbosa.

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