quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"NOUS VOYONS TOUTES CHOSES EN DIEU = NÓS VEMOS TODAS AS COISAS EM DEUS"?

A filosofia cartesiana desenvolveu-se sobretudo no século XVIII, século áureo da literatura francesa, e dentre os discípulos mais célebres de Descartes encontra-se Nicolau Malebranche, nascido em Paris, em 1638, entrando jovem ainda para a Congregação do Oratório, onde lendo obras cartesianas descobre sua vocação filosófica. Faleceu em 1715 após uma discussão calorosa com o idealista Berkeley.
A doutrina filosófica mais conhecida de Malebranche é o chamado Ontologismo. Este ensina que todo o pensamento corresponde à realidade, pois do contrário não pensaríamos nada e esta realidade é a idéia da coisa pensada, entendendo idéia aqui no sentido platônico de tipo eterno das coisas. Ora, não vendo nós as coisas senão nas suas idéias, e não podendo essas idéias estar senão na inteligência divina, segue-se que vemos tudo em Deus: "Nous voyons toutes choses en Dieu". Quanto a Deus conhecêmo-lo não por uma idéia, mas direta e imediatamente em si mesmo. O homem possui, portanto, visão imediata e intuitiva de Deus e, nesta visão direta de Deus, conhece todos os seres. Mesmo que todos os corpos desaparecessem, vê-los-íamos ainda do mesmo modo, nos seus arquétipos eternos e só pela revelação podemos ter certeza da existência do universo sensível.
Salta aos olhos a analogia desta teoria com a de Platão, pois ambas supõem a intuição direta das idéias em Deus, com a diferença apenas de que Platão admitia que contemplamos estas idéias na essência divina numa vida anterior à atual, e Malebranche afirma que o fazemos durante esta vida.
RAZÃO tem Malebranche ao afirmar que a experiência sensível é impotente para nos fornecer as idéias e os princícpios necessários; que as verdades eternas têm o fundamento último em Deus; que a razão humana não pode alcançá-las, senão enquanto é participação criada da inteligência divina.
ERRA, porém, ao afirmar que Deus é o objeto direto e único do nosso conhecimento, afirmação que está em aberta oposição com os dados imediatos e evidentes da consciência, privados de fundamento, portanto. Assim como não é no sol mas pelo sol que percebemos os objetos visíveis, assim não é em Deus, mas por sua iluminação que alcançamos a verdade das coisas. Não descemos de Deus às criaturas, como supõe Malebranche, mas subimos das criaturas a Deus.
Esta teoria leva naturalmente ao panteísmo, pois se nossas idéias são a essência divina diretamente contemplada, quando as identificamos, nos juízos afirmativos, com os seres finitos e indivíduos, não confundimos, porventura, numa identificação panteísta, as realidades contingentes com o Ser necessário?
Paulo Barbosa.

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