sexta-feira, 2 de julho de 2010

O ESPORTE E SEUS REAIS OBJETIVOS

O esporte é uma prática que surge junto com o homem, se o entendermos no sentido lato, de exercitação física. Os homens, desde eras imemoriais, fugindo de animais, em competições por regiões ou territórios e em disputas por domínios, exercitavam-se em lutas hábeis.
Entre os egípcios, babilônios, assírios, hebreus, arqueólogos encontraram indícios de cenas de lutas, jogos de bola, natação, acrobacias e danças. A luta corpo a corpo e com a espada, no Egito, data de 2700 a.C.
Na China, ha 5 mil anos, os monges praticavam o Kung fu, arte marcial similar ao caratê, para defenderem-se dos invasores de terras.
Nestes inícios, as práticas desportivas estavam ligadas ou tinham por finalidade o aprimoramento da força física do defensor da pátria, do soldado, do monge, que em momentos difíceis se tornava guerreiro, e devia por isso estar preparado, adestrado para o combate. Outra finalidade também nas práticas esportivas era a cultual, ou seja, religiosa. Até esse momento vemos que o esporte não tinha qualquer destaque social nem de entretenimento. É a Grécia Antiga que dá destaque social ao esporte, que o faz ser objeto de desejo dos homens, dos cidadãos sobretudo, e ainda com as finalidades de adestramento físico e cultual, porém acrescida com a do entretenimento.
A educação física grega conferia distinção social; a prática esportiva engrandecia ao cidadão, mesmo causando suor. Sócrates mostra a importância do esporte em sua época ao dizer que "Nenhum cidadão tem o direito de ser amador em matéria de adestramento físico, sendo parte de seu ofício, como cidadão, manter-se em boas condições, pronto para servir ao  Estado sempre que precisar". E conclui dizendo que é uma desgraça o homem envelhecer sem nunca ter visto a beleza ou ter sentido a força que seu corpo é capaz de produzir.
Arsitóteles e Hipócrates, o pai da medicina, escreveram reconhecendo o valor do esporte, dos exercícios físicos, mostrando que um corpo são é base para uma inteligência sadia - mens sana in corpore sano - e que o adestramento físico devia mesmo, por esse motivo, de ser base, fundamento, preceder a cultura intelectual.
Até este momento vemos que as finalidades da prática esportiva estão ligadas à defesa física ou da pátria, ao culto religioso, ao entretenimento e como propedêutica da cultura intelectual.
Na Idade Média houve uma baixa nas práticas esportivas, pois o móvel desta época era a santificação e purificação da alma, enquanto que o corpo devia ser macerado com penitências e sacrifícios. O adestramento neste tempo tinha somente fim defensivo, para enfrentamento com os inimigos, nas várias batalhas travadas e nas caças.
O Renascimento, com sua filosofia humanista, resgata a educação física, nos séculos XVI e XVII, e com as mesmas finalidades da Grécia Antiga. No século XVIII a educação física é sistematizada na Europa, e no século XIX, em Oxford, Inglaterra, são reformados os conceitos desportivos, criando-se as regras para os jogos, favorecendo desta maneira a internacionalização do esporte. No século XX três linhas doutrinárias esportivas disputavam a primazia: na Alemanha, a ginástica nacionalista, que enaltecia os aspectos nacionalistas, patrióticos, ligados à ordem; na Suécia, a ginástica medicinal, que tinha como fim a terapêutica ou prevenção das doenças; e na Inglaterra, o movimento esportivo inglês, que gera a concepção moderna do esporte, tendo o liberalismo como filosofia e o capitalismo como modelo, objetivou  a mercantilização, o acúmulo de metais preciosos, como fim primário das práticas esportivas, deixando em segundo plano, ou mesmo sufocando, todos aqueles objetivos de outrora, onde a exercitação física era apenas meio para uma vida, física e intelectual, íntegra e sadia. 
Apesar da mudança de orientação ou de objetivo do esporte, a partir de sua vertente inglesa, surgiu ainda o movimento olímpico atual, tendo sido seu maior incentivador Pierre de Freddy, Barão de Coubertin, filósofo e historiador, que, com a reorganização dos Jogos Olímpicos, almejava revalorizar o aspecto propedêutico do esporte, o aspecto pedagógico, aquele mesmo dos gregos expresso na frase de Juvenal já citada aqui: mens sana in corpore sanoInfelizmente seu esforço foi em vão.
O que assistimos é bem o oposto do que o Barão de Coubertin se propôs a resgatar; o móvel esportivo moderno continua a ser o mesmo pelo qual foi gerado, como filho que é das revoluções mercantilistas inglêsas. Este móvel financeiro, que mudou a concepção de esporte, que fez do esporte não um fator de distração, de treinamento físico, de competição leal e sadia, é gerador de imbecilismo, de mostruosidades tais como as vemos em muitas partidas de futebol pelo mundo afora. Este móvel inglês é o destruidor do verdadeiro esporte, quando suprime seus reais objetivos, objetivos que auxiliavam ao homem a se humanizar, a se tornar mais homem, na medida em que uma das finalidades era ser coadjuvante do intelecto, capacidade espiritual que distingue o homem dos brutos. O objetivo atual do esporte, e do futebol em particular, faz do homem lobo para o homem, conforme mote de um pensador inglês, Hobbes, e impede a humanização, a informação e formação da inteligência, bestificando, brutalizando, produzindo homens fortes, corpulentos e endinheirados, mas mentecaptos, rasteiros e ignóbeis. É só ouvir os noticiários.
Paulo Barbosa.
Dia da derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo.

Um comentário:

Aruan Freitas disse...

Dunga poderia ter lido isso...

... e talvez teríamos merlhorado um pouquinho, né?