quinta-feira, 24 de junho de 2010

FILOSOFIA: CIÊNCIA DAS PALAVRAS OU DAS COISAS?

A Filosofia é um hábito da inteligência humana, que permite contemplar com ciência, ou seja, com rigor, o mundo em todas as suas razões, em todos os seus porquês, e além disso, ordenar as ações humanas para seu fim próprio. Este hábito nasce de uma força interna e da fecundidade da inteligência, constando de sabedoria e prudência.
Os Complutenses em sua magnífica obra "In octo libros Physicorum quaestiones, 1737", a define como "o conhecimento das coisas humanas e divinas enquanto podem ser investigadas pela luz natural da razão".
Ensina-nos a experiência iluminada pela razão que somente somos capazes de dois tipos de conhecimento: das coisas e das palavras, ou seja, podemos aplicar nossa inteligência na compreensão de um ser ou de uma coisa, ou podemos conhecer simplesmente palavras, vocábulos, sem referência ao ser.
Ora, na definição de Filosofia dada pelos Complutenses, sintética sim, mas verdadeira, profunda, vemos que a Filosofia é ciência, é conhecimento das coisas, e não de palavras, ou seja, o conhecimento filosófico não é um repertório vocabular, um conjunto de palavras tecnicizadas, mais ou menos difíceis, complicadas, mas que nada diz respeito às coisas, que nada traduz da realidade, que nada informa acerca do Homem, do Mundo e de Deus.
Já o ilustre pensador brasileiro, Plínio Correa de Oliveira, dizia em um de seus artigos escritos para o Legionário, jornal oficial da Arquidiocese de São Paulo, na década de 1950, que há dois cursos de filosofia, um de palavras e outro de conceitos. O primeiro é aquele que toma a filosofia como ciência de palavras, de vocábulos, conforme vimos acima, e sua função é apenas e tão somente de emoldurar a inteligência com um repertório de nomes que nada dizem ou ensinam, que nada traduzem da realidade, que nada apresentam acerca das razões do mundo e de sua ordem, do fim da criatura e de sua ordenação. O segundo, por sua vez, é o curso ou ensino da Filosofia que habilita o homem a realmente filosofar, a realmente contemplar a realidade em sua integralidade e a partir daí conhecê-la, saber suas razões, e ordenar as ações dos homens, mostrá-los o fim que devem obter para a satisfação plena de suas inquisições e inclinações.
É uma lástima constatar que em nossos dias, até mesmo em estabelcimentos de envergadura, de tradição, como a Faculdade São Bento do Rio de Janeiro, os cursos de filosofia não passam de logomaquias, de transmissão de palavras ocas e sem sentido, de conjuntos de discursos que não traduzem a realidade, mas a mente entorpecida de tal e tal pensador, fazendo de seus ouvintes (ou alunos?) meros repetidores de doutrinas alheias, infundadas muitas vezes, sem a mínima capacidade de pensar objetivamente.
Paulo Barbosa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Paulo, salve Maria.

Excelente a definição de filosofia dada no primeiro parágrafo deste texto, definição esta que utiliza uma precisão como eu nunca tinha visto.

Fique com Deus e com Nossa Senhora,

Sandro de Pontes