sexta-feira, 26 de novembro de 2010

ESTRUTURALISMO METODOLÓGICO

Método é uma maneira específica de se proceder a fim de se alcançar um objetivo, seja científico, seja artístico ou seja técnico. Muitas são, hoje, as espécies de métodos adotadas nas várias ciências e na filosofia: método fenomenológico, método dialético, método experimental, etc. Dentre os vários tipos, um existe denominado método estruturalista, que será o objeto deste artigo.


O ESTRUTURALISMOantes mesmo de ser uma teoria ou corpo doutrinário, é um método de pesquisa que se pretende aplicar a toda e qualquer ciência, inclusive à filosofia. Seu surgimento foi na França logo após o Existencialismo, e seu inventor foi Claude Lévy-Strauus (1908-2009), antropólogo belga e arremedo de filósofo, autor da "As Estruturas fundamentais do Parentesco", obra que apareceu em 1949.
Strauss ao criar o método estruturalista tomou como ponto de partida o método linguístico criado pelo filólogo suíço Ferdinand de Saussure, fundador da linguística moderna. Segundo este filólogo, os estudiosos da linguagem na antiguidade tinham como interesse estudar a origem e a etimologia das palavras e suas transformações semânticas, suas mudanças de sentido, enquanto os estudiosos modernos, os linguistas, têm como preferência o estudo dos vocábulos como partes de um todo, ou seja, dentro de uma estrutura. Os vocábulos de um idioma, segundo eles, são todos coerentes, como as engrenagens de uma máquina, e esta coerência ou estrutura vocabular é fruto da capacidade da mente humana que, mediante atividade, manifesta sua estrutura fundamental.
Strauss estabeleceu, então,  analogia entre a linguística e a etnologia, afirmando ser as relações de parentesco uma espécie de idioma, sendo a mulher no campo etnológico o que é a palavra no campo linguística: da mesma maneira que os homens trocam entre si palavras, as tribos trocam entre si mulheres. Afirma ainda que tanto o homem antigo, primitivo, como o moderno, civilizado, possuem a faculdade de pensar e formular conceitos universais, mas diferenciando-se, pois o homem primitivo apreendia a realidade ambiente como uma estrutura, como um todo interligado, como uma sincronia, não se interessando nem pelo passado e nem pelo porvir, ao passo que o homem civilizado é mais inclinado à diacronia, ao evoluir histórico, ao futuro e ao progresso.
Michel Foucault (1926-1984), professor de História e pensador francês, aplicou o método à Antropologia, cuja tese principal pode-se resumir no seguinte: "Tanto o homem do passado, o primitivo, como o moderno civilizado, bem como o do futuro, o super-civilizado, possuem todos a mesma estrutura humana  -  pensamento, emoção, liberdade, relações humanas e sociais -, e, por esse motivo, a História não tem nenhuma finalidade. O homem seria a última invenção da natureza, o fim da linha".
O método estruturalista consiste, pois, em encontrar estruturas determinadas numa realidade tal, e, após, confrontá-las com outras estruturas, como, por exemplo, Foucault, que encontrou a mesma estrutura no homem primitivo e no civilizado.
Numa visão estruturalista, poderíamos dizer que Tales de Mileto estruturava tudo com a água; que Demócrito tudo estruturava com os átomos; em Aristóteles o ser se estrutura com matéria prima e forma substancial; em Kant as categorias a priori estruturam-se logicamente; em Fichte  o conhecimento se organiza do confronto do ego com o não ego; em Hegel o movimento, o devir, estrutura-se em tese, antítese e síntese; em Marx a realidade se estrutura em infra-estrutura, estrutura e superestrutura; enfim, em Heidegger a existência estrutura-se em 'ser-no-mundo' e 'ser-com-outros'.
As possibilidades da aplicabilidade do método são inumeráveis, como vimos, ou seja, sua fecundidade é enorme, e pode-se até admitir que seja tal método útil quando acentua a sincronia - chamada de estrutura -, mas que exagera quando rejeita a diacronia, pois uma realidade não elimina a outra, isto é, a simultaneidade não contradiz à sucessão.
Depois, quem quiser aplicar o método estruturalista, deve, antes de tudo, observar atentamente se a realidade que se quer examinar possui realmente uma estrutura original, ou se, ao invés, não é uma realidade hipotética, projetada, puramente imaginária, fantasiosa, como, por exemplo, a realidade straussiana dos "homens que trocam palavras" e "tribos que trocam mulheres", ou a realidade histórica de Karl Marx, de "infra-estrutura que gera superestrutura". Deve-se proceder a esta observação acurada, porque as estruturas não devem ser inventadas, projetadas, mas sim descobertas e demonstradas.
Paulo Barbosa

Nenhum comentário: