Muito pouco estudado são os denominados "Novos Filósofos", grupo de intelectuais franceses que em meados de 1970 tornou-se conhecido mundialmente. Este grupo, de 8 ou 9 homens, foram marxistas, maoístas, ultra-maoístas, que insatisfeitos com os totalitarismos de todos os naipes, seja de esquerda, seja de direita, desiludiram-se e começaram a propagar um estado de espírito em que se professava o retorno a Sócrates, aos valores éticos, à moral, em que a sociedade se renovaria somente e tão somente se os homens começassem a aderir às qualidades morais da honestidade, da fidelidade, do respeito ao semelhante e da veracidade.
Altamente significativa foi a posição destes intelectuais, pois, como vimos, transferiam a renovação social do plano meramente jurídico e institucional para o plano da consciência moral e da ética. Outro fator significante do grupo foi o de terem afirmado a desintegração do marxismo precisamente quando parecia mais vivo e pujante no setor político, num momento em que , na França, a aliança socialista-comunista gozava de forte probabilidade de dominar o Parlamento por ocasião de uma eleição iminente.
Os cinco mais significativos dos "Novos Filósofos", todos ainda vivos hoje, são:
1. André Glucksmann - Figura preeminente do grupo, filho de pais marxistas que fugiram da Alemanha nazista em 1936. Ingressou no Partido Comunista aos 14 anos e mais tarde foi aliciado pelo maoísmo. É autor do "The Cook and the Man-Eater", O Cozinheiro e o devorador de homens, 1975, livro que narra sua odisséia política, inspirado nas revelações de Aleksandr Isayevich Solzhenitsyn (1918-2008), escritor e historiador russo, prêmio Nobel em 1970, um dos principais críticos do comunismo, que deu a conhecer ao mundo os crimes e a falta de humanidade do estalinismo, do denominado comunismo real, denunciando de modo contundente os Gulags, campos de trabalhos forçados para onde eram deportadas as vítimas dos comunistas.
2. Bernard-Henry Lévy - Foi jornalista de esquerda, grande admirador de Fidel Castro e Mao e colaborador da Editora Grasset de Paris. Seu best-seller tem como título "Barbarism with a Human Face", Barbárie com face humana, obra onde descreve as barbáries e crimes desumanos do comunismo.
3. Jean-Marie Benoist - Julgou esclerosado o pensamento político e filosófico de Marx e Mao, e devido a isso deveria ser sacudido e removido do cenário político, das instituições, da mesma maneira como Galileu Galilei sacudiu e removeu a cosmovisão aristotélica. Ensinava que os "Novos Filósofos" seriam continuadores do papel de Galileu, mas desta vez no setor político-social.
4. Jean-Paul Dollé - Doutor em Filosofia e professor de Sociologia na Escola de Belas Artes de Paris, publicou a história de sua briga com o marxismo num livro intitulado "Desire for Revolution", Desejo de Revolução. Era de opinião de que na contemporaneidade há um vazio, que as pessoas estão interessadas em muitas coisas, desde a música trovadoresca do século XIV até à legalização da maconha, mas nada existe que possa unificar tais interesses; estamos numa era dispersiva e isso obstrui ao exercício das funções dos homens de cúpula - políticos, economistas, promotores de cultura, etc.
5. Guy Lardreau - Professor no "Lycée d'Auxerre" e autor da obra anti-marxista intitulada "Monkey of Gold", Macaco de Ouro, onde professa ser necessário renunciar à ideia de que exista algum sistema que possa se salvador.
Este grupo de homens pensantes criaram em solo francês perplexidades e curiosidades. Os políticos, os intelectuais, perguntavam quem eram os "Novos Filósofos"?, se de direita ou de esquerda?, e a resposta sempre era a de que não eram nem de uma extremidade nem de outra, mas que sim, eram um sintoma de algo maior que estava por vir e que os políticos e intelectuais ainda não reconheciam.
Estes intelectuais foram e são, pois ainda vivem, homens cansados e frustrados com os ingentes crimes e massacres cometidos por um sistema que alardeava ser o messias do povo; são homens que denunciaram toda ideologia sob qualquer de suas aparências ou máscaras; que denunciaram, e denunciam, qualquer sistema totalitário, ou seja, qualquer sistema que se propague como sendo suficiente para responder a todas as indagações humanas e conferir-lhe a felicidade, como falso, como impossível de satisfazer ao homem em suas necessidades profundas.
Paulo Barbosa
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