sábado, 6 de novembro de 2010

OS SEIS ESTADOS DA INTELIGÊNCIA DIANTE DA VERDADE

A inteligência humana, que se ordena  à verdade, pode possuir seis estados ante a realidade, ante sua adequação com o real:

1. Estado de Ignorância - denominado também de nescientia, que é quando a inteligência não possui a verdade e nem se esforça por possuí-la, sendo, portanto, um estado puramente negativo, ou seja, uma ausência de relação da inteligência para com a realidade, uma ausência de adequação com o real;
2. Estado de Dúvida - é quando o intelecto  não possui a verdade não por não procurá-la, como ocorre na nescientia, mas porque dela se abstém não proferindo nenhum juízo afirmativo ou negativo. Aqui entra o medo de profereir o juízo, o sim ou o não, por não se ter evidência de qual proposição ou asserção confere com a realidade, ou seja, qual é a verdadeira;
3. Estado de Suspeição - se dá quando a inteligência não possui a verdade, mas para ela se inclina. Neste estado, como nos dois anteriores, não há emissão de juízo, ou seja, afirmação ou negação de um predicado acerca de um sujeito;
4. Estado de Erro - incide sobre a inteligência quando esta não possui a verdade, mas professa possuí-la; este estado é muito encontradiço em nosso tempo e  em todos os setores: eclesiástico, acadêmico, político, etc. O erro é a não adequação do juízo com a realidade, sendo, portanto, uma ignorância que se ignora;
5. Estado de Opinião - onde a inteligência possui a verdade, porém de modo imperfeito, havendo sim emissão de juízo, mas com perplexidade e receio de errar;
6. Estado de Certeza - se dá quando a inteligência possui a verdade de modo perfeito, ou seja, quando adere firmemente à verdade, quando se adequa de modo correto com a realidade. Não significa conhecer a realidade em toda sua extensão, mas naquilo que é facultado à uma inteligência finita, limitada. Os clássicos definem a certeza como "assensus firmus mentis in verum, sine formidine errandi", assentimento firme da inteligência na verdade, sem medo de errar. Ter certeza, portanto, de algo, significa ter presente tres coisas: 1) a posse da verdade = estar realmente de acordo com a realidade, asseverar que o que é é, e o que não é não é; 2) a firme adesão da inteligência sem flutuação, sem medo de estar em desacordo com o real; 3) a exclusão do oposto, ou seja, do erro, da não adequação com a realidade.
Quantos hoje em dia, em nome do ceticismo reinante, mesmo não se dizendo ou confessando céticos, rejeitam a certeza, rejeitam a verdade, a sua posse, como se ao homem fosse impossível adequar-se ao real. Quantos apregoam, até mesmo na Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro, instituto que pela forma se parece imbuído do senso realista, que não existe a verdade absoluta, que cada um tem direito à construir sua verdade, a perceber a realidade à sua maneira, de acordo com sua idiossincrasia. Quantos, enfim, que negam ao homem aquilo que lhe é próprio, que lhe distingue dos outros seres, num afã irracional de animalizarem a si e aos demais homens, talvez em nome de uma solidariedade igualitarista e ecológica para com os brutos infra-racionais.
Paulo Barbosa.

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