sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

QUE É O MOVIMENTO E QUANTAS SÃO SUAS ESPÉCIES



Último dia do ano de 2010, ruas cheias, casas em festa, todo mundo em movimento. Ante toda essa movimentação agitada, não seria o momento adequado de ver o que pensaram os filósofos acerca do que é o movimento? Certo que alguns, como os eleatas, negaram sua existência, diferentemente de outros que seguindo o senso comum o admitiram. Destes, Aristóteles, na sua Física, foi o primeiro que tratou de maneira magistral sobre a essência e as espécies do movimento, donde iremos tirar as ideias mestras para expor neste artigo de final de ano.

O movimento é uma noção primeira, primitiva, ultrapassando mesmo as categorias ou os predicamentos, pois em muitos destes ele se encontra. É definido em Filosofia como "actus existentis in potentia in quantum est in potentia", " o ato daquilo que está em potência enquanto está em potência"

É ato - actus -, o que quer dizer que já é alguma realidade, já possui algum ser;
Do que existe em potência, quer dizer, este ato ainda é inconcluso, não acabado, não definitivo, mas que seu sujeito ainda pode ser determinado por um novo ato, uma nova atuação;
Enquanto está em potência, ou seja, o ato do movimento só determina seu sujeito - o sujeito que se move - onde este se encontra em potência.
Mediante esta definição, se vê que o movimento é um ato imperfeito, é uma potencialidade que ainda não foi perfeitamente atuada, é uma espécie intermediária entre a pura potência (= capacidade de receber perfeição) e o ato simples (= a perfeição simples, o ser já acabado, completo).
Aristóteles ensina que "o movimento é bem um certo ato, mas incompleto, e isto porque a coisa em potência, na qual o movimento é o ato, é incompleta". 
São encontrados 4 espécies de movimentos no mundo sublunar, segundo o Filósofo, nos capítulos V e VI de sua Física, a saber:
1. Movimento substancial - que é a passagem de um não sujeito a um sujeito, ou seja, a geração, ou de um sujeito a um não sujeito, a corrupção ou morte;
2. Movimento de aumento e de diminuição - referente, portanto, à categoria quantidade, encontrável somente entre os seres vivos, tratando-se do aumento ou diminuição do volume;
3. Movimento de alteração - é o concernente ao predicamento qualidade, quando, por exemplo, uma fruta apodrece, um leite deteriora, modificando a qualidade da coisa;
4. Movimento local ou de translação - relativo ao predicamento ubi, é dado pela experiência, e mesmo assim a Escola de Elea, com Zenão, o contestava, argumentando que Aquiles nunca alcançaria a tartaruga.
O último tipo, o de translação, é o mais popular, pois não é mais que a passagem mesma de um lugar para outro, o que na terminologia filosófica é descrito como 'actus transeuntis ut transeuntis", e é este o movimento que vemos e fazemos em dias ou noites de festas, como na noite de hoje, passagem de ano, em quase todo o mundo. Devemos pedir a Deus que permita-nos o movimento local na entrada de ano, afastando, no entanto, para o ano que chega, o substancial, a passagem do ser para o não ser, quer dizer, a morte.
Paulo Barbosa.

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