segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

JACOB BOEHME: UM SAPATEIRO-MÍSTICO ALEMÃO

O século XIV vê ressurgir o misticismo que tem por mestres a Santo Agostinho de Hipona e os neoplatônicos. Todavia, se se encontra correntes místicas que permanecem dentro dos limites da ortodoxia, como a de Juan Ruysbroeck (+ 1381), muitas outras manifestam-se dissonantemente, com infiltrações panteístas, tais como a do Mestre Eckhart (+ 1327) e de Jacob Boehme.

Aqui trataremos apenas de Boehme, apresentando breves traços de sua vida e sua doutrina acerca de Deus e da origem do mundo. 

JACOB BOEHME (1575-1624), foi um místico heterodoxo e filósofo alemão, conhecido também como 'philosophus teutonicus', nascido em Alt-Seidenburg (Oberlausitz, Silésia), era um simples pastor em Gorlitz, que não conseguiu se elevar socialmente senão adotando a profissão de sapateiro. Protestante luterano, inflamou-se com a leitura da Bíblia, e em consequência de certas visões, começou a persuadir-se de que estava predestinado a anunciar aos homens os mistérios que tinham acabado de lhe ser revelados, e com esse intuito publicou, em alemão, várias obras das quais a primeira tinha como título Morgenrothe in Aufgang, mais tarde chamada de Aurora por seu admirador Baltasar Walter, e uma outra, Descrição dos três princípios da essência divina. Estes três princípios são a vontade, em Deus Pai, a vontade em ação, em Deus Filho e a sabedoria, em Deus Espírito Santo. Quando estas obras chagaram ao conhecimento do pastor Richter e das autoridades de Gorlitz, Boehme foi preso e prometeu não mais voltar a escrever. Cumpriu sete anos de prisão, mas arrebatado por um impulso interior, começou novamente a produzir mais e mais obras, o que lhe acarretou mais perseguições. Foi então expulso de Gorlitz e se refugiou em Dresde, porém absolvido pelo tribunal, regressou para Gorlitz, onde morreu. Suas últimas palavras foram: "Oh tu, forte Senhor Sabaoth, salvai-me segundo a tua vontade. Oh tu, Jesus Cristo crucificado, tende piedade de mim. Agora vou ao Paraíso".

TEOLOGIA BOEHMICA

Deus para o sapateiro-místico era o Abismo sem fundo, o Nada eterno. Dizia: Deus "é em si como uma imensa profundidade, como um Nada eterno". É a Unidade eterna, o Nada e o Tudo, é a quietude absoluta, o silêncio total que repousa em sua eterna nulidade. Este Deus de Boehme procede do Nada, e por isso mesmo, o Nada é a causa e a origem do Todo, de todas as coisas.

COMO SURGEM TODAS AS COISAS

Como pode as coisas sair do Nada inicial é uma questão que coloca Boehme. Desde toda a eternidade existe o Nada inicial, absoluto, mas internamente este Nada possui uma Vontade imanente, que é eterna, que não possui origem em nada, senão em si mesma. Caso não existisse essa Vontade, tudo seria nada, não existiria nem obscuridade, nem luz. A origem, pois, de tudo quanto existe, é essa Vontade eterna.

CONVERSÃO DO NADA EM DEUS

O Nada se converte em Divindade por meio de uma divisão da Unidade que se realiza em três etapas simultâneas, não sucessivas, ou seja, a Unidade se triparte nas três pessoas divinas:

a) O Pai, o primeiro que é produzido pelo impulso da Vontade imanente, e que é a mesma Vontade, que no princípio era indiferente, nem boa, nem má. É Vontade pura, saída do Nada e que permanece Nada. 

b) O Filho, uma segunda Vontade produzida pela Vontade-Pai. O Filho se orienta para o Bem, mas em virtude disto surge uma contraposição, e a indiferença do Pai se converte em antagonismo com o Filho, ou seja, o Pai se converte em força do mal, em fogo, em obscuridade e ódio, enquanto que o Filho é o bem, a luz, a claridade e o amor.

c) O Espírito Santo é o que procede do Pai e do Filho, e é o meio pelo qual o mundo é produzido num processo que nunca terá fim, numa produção eterna, e que por isso mesmo, Deus nunca possuirá a plena atualidade, pois sempre estará fazendo-se na Trindade e no Mundo.

INFLUÊNCIA DE BOEHME

Enfim, Boehme exerceu grande influência na posteridade, manifestada em dois planos: em primeiro lugar na esfera da mística, e em segundo lugar na filosofia, onde Boehme antecipou as especulações principais do idealismo alemão pós-kantiano. 
Paulo Barbosa.

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