A principal refeição dos Romanos era a CAENA, donde veio o português ceia, e alguns autores supõem que tenha sido mesmo, nos tempos primitivos, a única alimentação do dia. A hora habitual da caena era a hora nona, ou seja, as três horas da tarde, no Verão, como informa Cícero (Fam. IX 26), e a hora decima, no Inverno, segundo Plínio (Ep. III, 1). Juvenal esclarece que tomar a ceia mais cedo era considerado vício (cf.: I, 49). A origem da palavra caena é o adjetivo grego koine, que significa comum, pois esta refeição era feita em comum.
Antes, porém, desta principal, tomavam os Romanos uma outra refeição, por volta do meio dia, chamada PRANDIUM, donde veio o italiano pranzo, jantar. Era feita em pé - sine mensa -, e os alimentos eram as sobras da caena do dia anterior, carnes, queijos e frutas, e para bebida usava-se um vinho misturado com mel, chamado mulsum. O vocábulo prandium é composto do prefixo grego dórico pran, que significa de manhã, mais o substantivo latino dies, dia, para referir que esta refeição é tomada na parte da manhã do dia.
Um pouco mais tarde, além do prandium e da coena, foi-se introduzindo o costume de se almoçar pela manhã, refeição matinal esta que recebeu o nome de JENTACULUM, origem do nosso jantar. Era composto por pães, queijos, leites e ovos. O pão era embebido em vinho ou regado a azeite de oliva, e o leite era o de cabra ou de ovelha. A partir do Império, no entanto, devido a preceitos médicos, o jentaculum caiu em desuso, e os Romanos passara a apenas tomar água pela manhã. A origem deste vocábulo é complicada, parecendo provir de jenitare, supondo a palavra je + diurna = refeição diurna, do dia, em oposição à vesperna, quer era a refeição noturna.
Além destas três refeições, havia ainda entre o prandium e a coena a MERENDA ou ANTE-CAENA. Plauto informa que esta merenda era dada àqueles que serviam por dinheiro, assalariados, aos mercenários, antes de serem mandados do trabalho pelo senhor ou patrão, "... dabatur iis qui aere merebant, mercenariis, antequam labore mitterentur a domino seu conductore" (Most. IV, 2.50).
Vê-se logo o parentesco entre merenda e merecer. Em latim mereri é ganhar salário, é servir em troca de salário, e esta refeição - a merenda -, era uma parte deste soldo dada pelo patrão antes do assalariado ir embora para casa. - [Quiçá fosse assim ainda em nossos dias, nos estabelecimentos escolares. Os estudantes só receberiam a refeição - a merenda - se realmente merecessem, ou seja, se cumprissem a finalidade para a qual ali estão, estudar e aprender].
O LUGAR DA REFEIÇÃO PRINCIPAL
REFEIÇÃO ROMANA |
O lugar onde era feita a caena chamava-se CAENACULUM, cenáculo, e mais tarde passou a chamar TRICLINIUM, proveniente do grego treis klinai, três leitos, porque os Romanos não comiam sentados como nos dias de hoje, mas sim deitados em leitos dispostos ao redor da mesa. Quando havia somente dois leitos na sala, era denominado BICLINIUM. Na verdade, o número de leitos dependia do número de convidados, e Varrão dizia que não deviam ser menos que as Graças, ou seja, três, nem mais que as Musas, isto é, nove. Quando um convidado tinha a liberdade de levar consigo mais alguém, a estes denominavam de umbrae, sombras, para designar assim que eram hóspedes ou convivas não convidados pelo dono do banquete (cf. Horácio, Sat. II 8 22 e Ep. I, V).
Paulo Barbosa.
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