sexta-feira, 18 de março de 2011

LITERATURA LATINA (XXVII): A PROSA CLÁSSICA, ERA DE CÍCERO - ERUDIÇÃO [1ª PARTE]

MARCO TERÊNCIO VARRÃO

BIOGRAFIA

Terêncio Varrão
VARRÃO (116-27 a.C.), nascido em Reate, na Sabina. Em Roma e Atenas estudou, tendo sido aluno de Élio Estilão, mestre de Gramática e de Antíoco de Áscalon, mestre de Filosofia. Em 67 foi ajudante de ordens de Pompeu na guerra dos piratas e teve sob seu comando uma esquadra no Mediterrâneo. Nesta ocasião, aproveitou para conhecer as cidade do Epiro, onde segundo a tradição Enéias teria aportado. Em todos os lugares por onde passava procurava-se instruir, porém isso não o impedia de se dedicar corajosamente na guerra, e como consequência recebeu a coroa rostral - coroa ornada de emblemas náuticos oferecida àqueles que se distinguia em batalhas navais. Na guerra civil foi partidário de Pompeu, mas depois reconciliou-se com César, que o incumbiu de organizar bibliotecas públicas. Foi proscrito por Antônio, assim como Cícero, porém conseguiu salvar-se graças a Caleno, e ainda viveu por mais quinze anos, cumulado de atenções por Augusto. Graças a sua longevidade, foi contemporâneo de Virgílio, após ter sido de Lucílio.

Varrão, embora muitas vezes ter-se implicado em política, era, antes de tudo, um erudito, que dedicava a maior parte de seu tempo ao estudo. Dentre todos os Romanos foi o que mais leu, provavelmente, e o que mais escreveu.

Foi homem de caráter um tanto amargo, irascível, áspero, suscetível, mas de grande honestidade.

OBRAS CONSERVADAS

Duas são as obras conservadas:

1. DE LINGUA LATINA, em 25 livros. É a mais antiga gramática latina de que se não tenham somente fragmentos. Contém etimologias, geralmente falsas, mas muitas vezes divertidas, e discussões curiosas sobre anomalias e analogia. É obra muito monótona e seca, e ainda destituída de qualquer pretensão literária.

2. RERUM RUSTICARUM LIBRI III. Obra possuída na íntegra ainda em nossos dias, constando de 3 diálogos: I. Sobre a cultura; II. Sobre a criação; III. Sobre os viveiros, os coelheiros, os galinheiros, as colméias, os aquários, etc.

A finalidade da obra era a de fazer amar a vida rústica, reconduzir os Romanos à cultura das terras, tornando-os para tanto conhecedores dos meios de tirar delas grandes lucros. Varrão supõe já um grande latifúndio, e não um pequeno terreno, como Catão.

As fontes, segundo o próprio Varrão, foram três: sua própria experiência, suas leituras e informações orais. Cita ainda numerosas fontes, dentre as quais dá o primeiro lugar à do cartaginês Magão, mencionando as adaptações que dele fizeram Cássio Dionísio e Diófanes de Bitínia.

Quanto ao valor literário, nesta obra Varrão aplicou-se, esforçando-se por se mostrar variado e brilhante. Cada livro é iniciado por uma encenação diferente, as diversas partes dos diálogos são sabiamente proporcionadas, o estilo bem cuidado, e muitas vezes, até um tanto pretensioso. Se não conseguiu produzir uma obra-prima, compôs, pelo menos, sobre um assunto técnico, um trabalho bastante ameno e atraente.

OBRAS PERDIDAS

Numerosíssimas foram as obras da lavra de Varrão, cerca de 74 em 620 livros, sendo as principais:

1. SATURAE MENIPPEAE, obra de 150 livros em prosa e verso. É um série de composições sobre os mais variados assuntos, um misto de reflexões picantes, de ditos incisivos, de belas descrições, de paródias alegres, mas também algumas vezes de pedantismo. - A sátira menipéia tem sua origem em Varrão, e o adjetivo menipéia é referente ao filósofo Menipo, da escola cínica, aquela que desprezava as convenções sociais e as riquezas, obedecendo apenas as leis naturais.

2. LOGISTORICON LIBRI, obra em 76 livros. São discursos - logos - atribuídos a homens célebres da História - istoricon, de istoria, em grego - ou da lenda, como por exemplo, Orestes, discursando sobre a insânia; Mário, sobre a fortuna.

3. ANTIQUITATES, em 42 livros. É a mais célebre obra de Varrão, dividida em duas partes: 1) res humanae, onde se trata de cronologia, de instituições profanas, etc.; 2res divina, onde trata acerca da religião romana.

4. IMAGINES ou HEBDOMADES, são breves biografias de homens ilustres, agrupadas por séries de sete e acompanhadas de 700 retratos.

5. DISCIPLINAE, em 9 livros. Era uma enciclopédia que abrangia gramática, dialética, retórica, geometria, aritmética, astronomia, música, medicina e arquitetura.

6. EPISTOLICAE QUAESTIONES, que são considerações sobre vários assuntos em forma de cartas. Autores admitem que seriam pelo menos oito livros. Ritschl, erudito protestante alemã do século XIX, corrigiu o adjunto adnominal para "Epistolicarum".

7. DE ORA MARITIMA, obra que trata de geografia, mas conhecida apenas através de Sérvio.

8. [SENTENTIAE VARRONIS], obra erradamente atribuída a Varrão. É coletânea de cerca de 160 sentenças posterior a Sêneca, porém.

JUÍZO SOBRE VARRÃO

Varrão não foi um grande escritor. De suas obras, umas, como o De Lingua Latina, são simples amontoados materiais, outras, como o Rerum Rusticarum, possui valor literário medíocre. Apesar disso, no entanto, deve ter um lugar relevante na história literária de Roma, por ter sido considerável a influência que exerceu na formação intelectual do povo romano. Foi em grande parte graças às suas obras que poetas e prosadores do Império conseguiram mais amplo conhecimento do passado de Roma e se tornaram versados em muitas das ciências gregas.
Paulo Barbosa.

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