quinta-feira, 24 de março de 2011

LITERATURA LATINA (XXXII): ERA DE CÍCERO - POESIA DRAMÁTICA - MIMO

A POESIA DRAMÁTICA

Nesta época de Cícero a Tragédia estava em franca decadência, não existindo nenhum autor que compunha expressamente para a cena. As tragédias da lavra de Quinto Cícero não eram destinadas à representação. Entretanto, continuava-se a representar com grande sucesso as peças dos dramaturgos antigos, como Pacúvio e Ácio.

Quanto à Comédia propriamente dita, não era mais cultivada do que a tragédia.

MIMO: UM NOVO GÊNERO QUE SURGE


Um novo gênero, entretanto, foi introduzido nesta época, o Mimo, peça cômica e bufa que continha, por vezes, alusões aos acontecimentos do quotidiano como também quadros pornográficos dos mais vergonhosos. O termo provém do grego e significa imitação, porém os romanos denominaram-no Fabula Ricinata, devido ao ricinum, coifa, que os atores ostentavam por vezes derrubado sobre a nuca. O mimo remonta ao V século antes de Cristo e sua origem é na Sicília, quando Sofrônio de Siracusa e Epicarmo compuseram as primeiras peças no gênero, mas em prosa coloquial. Da Sicília foi trasladado para Atenas e de lá para Roma. No século III a.C. um certo Herodas empregou o verso  em lugar da prosa, iniciando desta maneira uma tradição que perdurará até o século I a.C.

Os principais autores deste gênero foram:

DÉCIO (ou DÉCIMO) LABÉRIO

LABÉRIO (105-43 a.C.) era cavaleiro romano, e em 46 César o obrigou a subir em cena representando mimos de sua autoria numa disputa com seu rival, o jovem Publílio Siro. O prólogo repassado de melancólica dignidade que pronunciou neste dia ainda se conserva. Elaborou cerca de quarenta e três peças, das quais restam ainda aproximadamente cento e quarenta linhas ou fragmentos.

PUBLÍLIO SIRO

Publílio
PUBLÍLIO (85-43 a.C.), foi o que saiu vencedor da competição com Labério. Era originário da Síria, conforme indica o nome, e talvez de Antioquia. Foi levado como escravo para Roma, onde recebeu a liberdade e tornou-se o autor de mimo mais famoso.

Era hábil improvisador. Depois de ter escrito as passagens mais importantes, representava os próprios mimos. Algumas sentenças foram extraídas de suas obras e catalogadas em ordem alfabética, restando-nos hoje 722. Apesar de um tanto monótona, revela esta coletânea a engenhosidade e elegância do espírito do Siro.

TEMÁTICA DO MIMO

A temática do mimo era totalmente obscena, sem limites à imoralidade mais desbragada e de um realismo que não temia reproduzir as cenas mais chocantes, geradas pelos desvios sexuais. Atores nús apresentavam-se em situações pornográficas no palco, e até mesmo execuções de condenados à morte a fim de se oferecer a ideia exata daquilo que se quer mostrar. Era o mimo um serviço à plebe, atendendo às suas expectativas de diversão grosseira e chula.

EXECRAÇÃO

Com a chegada do Cristianismo, os mimos foram proibidos devido seu caráter licencioso e imoral. No século V d.C. a Igreja resolveu até mesmo fulminar com a pena de excomunhão a seus praticantes, e na época do Imperador Justiniano foram fechadas todas as casas de espetáculos do gênero. Os atores, no entanto, agruparam-se em companhias ambulantes que percorriam povoados mais distantes das cidades levando suas apresentações.

VESTÍGIOS INDELÉVEIS

Desaparecendo o mimo não significa que não tenha deixado marcas indeléveis, sobretudo nas encenações jogralescas e bufonescas muito comum ao longo da Alta Idade Média. Herman Reich, em seu Der Mimus, 1903, foi o primeiro a ver que os mimos que tanto foram encenados no Medievo são sucessores dos mimos antigos. Depois, vestígios também certos há no teatro popular de Juan de Encina e Gil Vicente, dos século XV-XVI, assim como na Commedia dell´arte, dos séculos XVI-XVII, e nos teatros mímicos franceses dos séculos posteriores.
Paulo Barbosa.

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