quarta-feira, 23 de março de 2011

LITERATURA LATINA (XXXI): ERA DE CÍCERO - POESIA NEOTÉRICA

CAIO VALÉRIO CATULO

CATULO, nascido provavelmente em 87 a.C., em Verona, próximo ao lago de Garda, cuja penísula de Sírmio foi objeto de seus cantares. Pertencia a família rica e importante, mas dilapidou seus bens nos prazeres de uma vida alegre e fácil.

Apaixonou-se por uma mulher a que chamava Lésbia, e que bem é possível que se tratasse de Clódia, irmã do tribuno Clódio. Quando mais tarde lhe traiu, Catulo a atacou em seus versos.

Catulo travou amizade com altas personalidades. Foi para Bitínia na comitiva do pretor Mémio, porém tirando pouco proveito dessa viagem, voltando para Roma com a bolsa vazia. Sua própria casa estava hipotecada, se devemos dar crédito às suas palavras.

Apesar de seu pai ter sido amigo e até mesmo anfitrião de César, Catulo o atacou violentamente, porém reconciliando-se com ele depois.

Morreu jovem, com doença do peito, pouco depois do ano 54.

POESIAS

A  coletânea dos seus poemas abrange 116 composições de extensão que vai de 2 a 409 versos. Podem ser distinguidos pelos seguintes temas:

a) Poesias a Lésbia;

b) Poesias a seus amigos, que são sempre alegres e graciosas, como por exemplo, a Asínio que lhe furtou o guardanapo à mesa;

c) Poesias às coisas, de caráter pessoal, como ao seu torrão natal e ao túmulo do seu irmão;

d) Composições poéticas impessoais, imitadas dos Alexandrinos, como a Boda de Tétis e de Peleu e A Cabeleira de Berenice.

Estes poemas não estão ordenados cronologicamente. Os críticos pensam que tenham sido publicados por Catulo um após outros e depois em pequenas coleções. O elenco completo, tal como o possuímos, teria sido compilado após sua morte. A dedicação que serve de introdução - Quoi dono lepidum novum libellum, I,1 - não teria sido feita para esse grosso volume, muito acima da média dos livros antigos, mas para uma coletânea parcial de tamanho muito mais reduzido.

CARÁTER DA POESIA

É principalmente nas composições curtas que transparecem as qualidades encantadoras de Catulo: graça inimitável, naturalidade perfeita, simplicidade e muitas vezes certa ingenuidade unida à impecável perfeição de forma, espírito alegre, malicioso ou mordaz e, acima de de tudo, verdade eloquente na expressão das paixões. Às vezes, entretanto, é lastimável deparar-se com gorosserias que vão até à obscenidade.

Os poemas eruditos, como as Bodas de Tétis e de Peleu ou A Cabeleira de Berenice, são menos apreciados. A imitação direta dos Alexandrinos é não raro muito fria e cansativa. A ciência, a técnica aí prejudicam a inspiração. A frase aqui e ali é construída canhestramente. Contudo, mesmo nesses poemas não faltam passagens graciosas e é num deles que se encontra o estribilho harmonioso e altamente expressivo:

  currite, ducentes subtemina, currite, fusi (64, 327).

A língua varia segundo os temas: nos pequenos poemas de circunstância é familiar - mais exatamente do que arcaica, segundo dizem alguns -, talvez com alguns provincianismos, com expressões vulgares e inúmeros diminutivos encantadores.

Nos grande poemas, Catulo, ao contrário, faz uso de linguagem elevada, de expressões seletas e passadas no crivo, de compostos eruditos, desinências gregas, etc.

Quanto à métrica, não atinge, no hexâmetro e no pentâmetro, a perfeição de um Virgílio ou de um Ovídio. No entanto, maneja com facilidade ritmos líricos muito variados, tomados aos Alexandrinos ou aos poetas da Eólia, como Alceu, Safo, etc. 

Composições narrativas como as Bodas de Tétis e de Peleu e a Cabeleira de Berenice, pertencem ao gênero literário conhecido com o nome de epílio, que constitui uma das características da poesia alexandrina e cujas leis foram definidas por Calímaco, em Hinos, II, 108 e seg., que o colocou em prática, por exemplo, na Hécale
Paulo Barbosa.

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