terça-feira, 5 de abril de 2011

LITERATURA LATINA (XLII): ÉPOCA DE AUGUSTO - POESIA ELEGÍACA [2ª PARTE]

POESIA ELEGÍACA

PÚBLIO OVÍDIO NASO


OVÍDIO (43 a.C.-17 d.C.), nascido em Sulmona, região italiana dos Abruzos, era filho de um cavaleiro. Primeiro estudou em Roma e em seguida foi para Atenas. O pai desejava que seguisse a carreira jurídica, mas era poeta nato. Durante algum tempo, quis escrever em prosa, porém os versos se formavam por si mesmos, sob a sua pena.

Depois de ter sido triúnviro, decênviro e centúnviro, renunciou às funções públicas para se entregar de corpo e alma à poesia. Era um homem feliz, de caráter amável, dotado de espírito e de talento, rico, aplaudido, procurado por todas as figuras da sociedade frívola daquele tempo.

Entretanto, de um momento para outro esta felicidade se esvai. Por volta do ano 10 d.C., foi exilado pelo Imperador Augusto, refugiando-se em Tomos, às margens do Ponto Euxino, à pequena distância do rio Danúbio. As causas deste exílio permanecem desconhecidas, não obstante todos os esforços para esclarecê-la. Uma delas, a mais aventada e popular, foi devido à sua obra imoral, que incita a amores fora do casamento, a Ars Amatoria. O que é certo é que teve que partir precipitadamente, mal tendo tempo de arrumar seus apetrechos de viagem. A esposa quis acompanhá-lo, mas ele recusou, deixando-a para evitar que seus bens fossem confiscados. Após longa tempestade, chega a Tomos, pequena cidade romana que tinha um destacamento militar para sua defesa. Aí viveu entre bárbaros de longa cabeleira, cobertos de pele de animais, em região plana, glacial e sem vegetação. Como ignorasse o idioma do lugar, viu-se, a princípio, obrigado a se comunicar mediante mímica. Mais tarde, porém, aprendeu o geta e o sármata, e chegou a compor versos em língua bárbara.

Muitas vezes escreveu do exílio implorando aos velhos amigos para obter o regresso, mas não conseguiu a absolvição do imperador. Então, envelheceu e morreu entre os bárbaros.

OBRAS

A produção poética de Ovídio é considerável.

1. AMORES, são elegias, a princípio em cinco livros, depois três, pois ele queimou as que não pareciam dignas da posteridade. Na verdade, poderia o poeta ter sido mais severo, pois a maioria desses poemas, cheios de erudição, de fino espírito e mais que tudo de licenciosidade, têm escasso mérito e não exprimem sentimento sincero ou real. A coletânea encerra, entretanto, uma bela elegia sobre a morte de Tibulo.

2. HERÓIDES, são cartas em versos elegíacos, de Penélope a Ulisses; de Basileia a Aquiles; de Fedra a Hipólito; de Dido a Eneias; de Helena a Páris, etc. É um gênero muito artificial, fastidioso e monótono, que, contudo, logrou sucesso, o que se explica por estar o gosto literário da época já muito falseado pela mania das declamações.

3. ARS AMATORIA, obra acerca da arte de seduzir, em três livros, sendo o primeiro conselhos para o homem seduzir ou conquistar uma mulher, o segundo, como segurá-la consigo, e o terceiro conselhos para as mulheres acerca do que os homens gostam. 

4. REMEDIUM AMORIS, em contraposição à ars amatoria, é uma espécie de palinódia da mesma. - Palinódia é um poema no qual o autor se retrata daquilo que disse em outro. 

5. MEDICAMENTA FACIEI, são hexâmetros sobre a maneira de se trajar. Só resta um fragmento.

6. METAMORFOSES, em quinze livros. É uma enciclopédia das lendas antigas, como a formação do mundo; sobre o Faetonte; Dédalo e Ícaro; as transformações de Filémon e Báucis em árvores; de Alcíone em pássaro, etc.

7. FASTOS, calendário histórico narrando as lendas romanas, as tradições do Lácio, os costumes da vida civil, as cerimônias do culto, pela ordem do calendário romano. É pelo assunto, uma obra nacional romana, mas é tão pouco esmerada a execução e há tal ausência de inspiração no poema, que seria absurdo pensar em compará-lo à Eneida.

8. TRISTES, são elegias em cinco livros, escritas no exílio, onde o poeta lastima suas desventuras.

9. PÔNTICAS, obra sobre o mesmo assunto dos Tristes. Muitas poesias têm por título o nome daquele a quem são dirigidas, mas os pedidos de intercessão para o regresso à Roma não surtem efeito algum.

10. HALIÊUTICA, poema sobre a arte de pescar, mas que chegou-nos somente uma parte.

11. MEDEIA, tragédia muito elogiada, mas que hoje em dia só se conhecem dois versos apenas.

12ÍBIS, panfleto em dísticos, composto por Ovídio no exílio, e que era endereçado contra um romano que o havia injuriado.

TALENTO POÉTICO DE OVÍDIO - CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS

É Ovídio o mais fecundo dos poetas latinos, possuidor de um engenho enorme, de muito espírito, e que sabia variar a forma da poesia com a graça, sobretudo quando narra lendas que muito se assemelham entre si.

A erudição mitológica é mais extensa que profunda, sendo mesmo menor que a de Virgílio e Horácio, e a inspiração também é bem menor que a destes, mas apresenta sobre eles a vantagem de se ter afastado mais dos moldes gregos. É com Ovídio que a literatura latina torna-se mais independente.

Como versificador e do ponto de vista estritamente técnico, é mesmo superior a Virgílio e Horácio. Seu poema é mais suave, menos sobrecarregado de espondeus e elisões e se ajeita aos moldes mais rigorosos, no que atine às cesuras, à forma dos últimos pés, etc.
Paulo Barbosa.

Nenhum comentário: