terça-feira, 24 de maio de 2011

LITERATURA LATINA (LXXXIII): ÉPOCA PÓS-CLÁSSICA - O ROMANCE [2ª PARTE]

O ROMANCE

APULEIO


APULEIO (125-170 d.C.), nasceu na África, em Madaura. Estudou em Cartago e logo após foi para Atenas. Viajou muito e foi morar em Roma, voltando depois para África, onde obteve fama de orador. Em Trípoli, mais precisamente em Oea, casou-se com uma rica viúva mais velha que ele. Foi, então, acusado de ter recorrido à magia para obter a mão dessa senhora, defendendo-se com sua obra Apologia. Durante muito tempo pronunciou pomposos discursos em Cartago e pôs-se a estudar e escrever sobre todos os assuntos. Em sua honra, devido ao reconhecimento que teve ainda em vida, várias estátuas foram erigidas.

OBRAS

As obras de Apuleio demonstram eloquentemente a sua intensa atividade literária. São as seguintes:

1. METAMORFOSES ou O BURRO, que narra sobre um jovem de nome Lúcio que desejando transformar-se em pássaro errou a poção mágica e em consequência adquiriu a forma de burro. Ocorreram-lhe as mais estranhas aventuras sob essa nova forma, servindo ora a ladrões, ora a sacerdotes pagãos, ora a um mercador de legumes, ora a um soldado, etc. Após tantas peripécias, retoma novamente a forma humana numa festa em honra à deusa egípcia Ísis. É então iniciado nos mistérios da deusa e em seguida nos de Osíris, outro deus do panteão egípcio. Este romance contém, junto com cenas do mais grosseiro realismo, pinturas delicadas e até mesmo curiosas efusões místicas.

2. APOLOGIA, discurso pronunciado por Apuleio defendendo-se da acusação de magia. É o único discurso real do tempo do Império Romano que chegou até nossos dias. É uma defesa habilidosa e espirituosa, porém um tanto rebuscada e com trocadilhos de mau gosto.

3. FLÓRIDA, é um extrato dos mais brilhantes passos de suas declamações.

4. DE PLATONE ET EIUS DOGMATE, um resumo da filosofia de Platão em três partes: lógica, filosofia natural e ética.

5. DE DEO SOCRATIS, um dissertação sobre os demônios e especialmente sobre o 'demônio socrático', numa completa ignorância sobre este e ainda bem mal elaborada a obra.

6. DE MUNDO, uma rebuscada tradução do Sobre o Cosmos atribuído a Aristóteles.

Muitas outras obras deste autor acham-se perdidas.

VALOR LITERÁRIO

Bem poucas obras de Apuleio, quanto ao fundo, são originais. Não somente o De Mundo, que ele apresenta como seu, é mera tradução, como também as Metamorfoses reproduzem páginas inteiras de romances gregos. Fora isso, parece que foi bem talentoso na arte da composição e na narrativa, pois suas histórias são, na maioria, primores no gênero.

ESTILO

Ao menos o estilo é bem do autor. É um estilo bastante complicado e estranho, diferente do de Petrônio, que é natural. Sobrecarregado de arcaísmos, de conceituações, antíteses e trocadilhos, denotando que o autor busca os termos mais insólitos. Sob este ponto de vista, suas obras diferem mesmo umas das outras, pois, enquanto em Flórida este ideal (de termos insólitos) chega à culminância e o estilo das Metamorfoses é apenas levemente menos estranho, na Apologia, pelo contrário, e nos pequenos tratados de filosofia, são muito menos notáveis esses defeitos.

Apesar dos senões, é muito interessante a obra de Apuleio e foi ele um dos representantes mais característicos da literatura africana.
Paulo Barbosa.

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