terça-feira, 28 de julho de 2009

A MORAL KANTIANA: GRANDE ALUCINAÇÃO DE UM GÊNIO

A moral kantiana, como a moral de Zenão, apresenta a anomalia de se pretender ser puramente formal, ou seja, fazer consistir o dever unicamente na obrigação e o bem somente na intenção, independentemente de todo o bem em si. Formal aqui significa independente de contingências e probabilidades, isto é, da experiência. É uma moral apriorística.
Ensina Kant que o imperativo categórico, absoluto, é um princípio absolutamente primeiro que nada supõe acima de si, que não tem como fundamento o bem, pois se o tivesse seria imperativo hipotético que ordena sob condição: faze isso... se queres obter este bem e realizar este ideal. A obrigação deve bastar-se, ser a sua própria razão suficiente e o dever deve ser definido como a necessidade de obedecer à lei pelo respeito à lei.
O único bem absoluto para Kant que pode ser tratado em moral é a boa vontade, que consiste não em querer o bem, mas em bem querer. Uma ação não é obrigatória porque é boa, mas ao contrário, é boa porque sendo obrigatória, foi posta pelo mero respeito da lei. O bem, longe de constituir o princípio e a razão de ser do dever, não é mais que consequência da sua observância.
Outro princípio da moral kantiana é a autonomia da vontade, que quer dizer estar isento de qualquer lei que não seja a que se encontra em nós mesmos; ser autônomo significa não sofrer a influência de nenhum outro motivo diferente do imperativo absoluto.
Uma lei que proviesse de uma autoridade estranha, ou que propusesse algum fim distinto de si mesmo, não seria obedecida pelo respeito a si mesma, mas em atenção a esta autoridade e pelo desjo deste fim, constituindo tal lei em uma heteronomia. Ora, a vontade só deve obedecer a si mesma, ou seja, a razão que dita a lei não deve ser extrínseca à vontade.
De tudo isso se conclui o valor absoluto da pessoa humana: "Procede de tal sorte que trates sempre a humanidade em ti e nos outros como fim e nunca como meio". O que constitui a pessoa humana é precisamente a vontade livre e a vontade é, portanto, ao mesmo tempo, princípio, sujeito e objeto da moralidade: é ela que impera, é ela que obedece, é ela ainda que se deve querer a si mesma, sempre mais reta, sempre mais livre. Deste modo, acrescenta Kant, chegaremos a realizar o ideal moral, que é "uma república de vontades livres em que cada um seria fim a respeito dos outros" e levaremos "uma vida de mútuo respeito e de recíproco auxílio, não por simpatia ou sentimento, mas por mero respeito à lei".
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Várias são as lacunas existentes nesta moral e a primeira delas e a mais grave é estar em oposição à natureza racional do homem, porque é próprio da razão humana nada fazer sem razão; é próprio da razão querer entender, querer dar razão das coisas e nada a revolta tanto e lhe é tão oposto como o arbitrário e o irracional.
Depois, como conceber um dever constituído meramente só pela obrigação, sem algum bem que seja o objeto e a matéria da obrigação? Quem é obrigado é obrigado a algo e esse algo deve ser um bem.
Outro disparate deste pseudo-filósofo, cultuado e seguido pela elite da imbecildade moderna, é proclamar a vontade humana absolutamente autônoma, como se a vontade pudesse coagir a si mesma sendo simultâneamente superior e inferior a si própria.
Vê-se, pois, como é falsa nos fundamentos, absurda e incoerente nas conclusões esta moral puramente formal, e razão tinha Fernandes de Santana ao proclamar: "A teoria de Kant é uma grande alucinação dum gênio, contendo em germe o ceticismo absoluto, o idealismo, o nihilismo e o panteísmo" (O materialismo em face da ciência, t. II, pag 177).
Paulo Barbosa.

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