domingo, 11 de julho de 2010

EPOPEIA: GÊNERO LITERÁRIO EXTINTO POR FALTA DE HEROÍSMO NO HOMEM CONTEMPORÂNEO

Proclamou alguém que a juventude não foi feita para o prazer, mas para o heroísmo, e enquanto essa máxima vigorou, grandes feitos vieram à luz, feitos gloriosos provindos das almas robustas, cheias de entusiasmo e disposição. Eram tais feitos ou façanhas notáveis, também chamados gestas, que figuravam no gênero literário denominado épico, extinto em nossos dias por falta de material: o heroísmo na alma do homem moderno, tipicamente relaxado, lânguido, sem forças e energias para o grandioso, apesar de atlético, sem élan para o altaneiro, para as realizações autênticamente humanas.
Na impossibilidade de se assisitir em nossos dias gestas ou façanhas gloriosas, compreendamos ao menos conceitualmente o que é o gênero épico, ou epopeia, qual o seu caráter, suas regras e alguns exemplos de epopéias famosas.
A epopeia é definida como narração poética de uma realização ilustre, com desfecho natural, imprevisto, rápido e completo, podendo ser feliz ou infeliz. É considerada a mais nobre composição poética, de mais árdua execução, por demandar grande esforço da imaginação criadora.
O caráter ou a marca distintiva e peculiar deste gênero é excitar ou produzir admiração mediante o quadro de ações heróicas, tendo como objetos o valor, a amizade, a franqueza, a justiça, a fidelidade, a magnanimidade.
As regras da epopeia exigem que conste o poema de título, proposição e invocação, constando no título apenas uma ou duas palavras tiradas do nome do herói, ou da ação, ou do lugar, ou dos agentes, como por exemplo: a Eneida de Enéias, os Lusíadas dos Lusos. A proposição é onde o poeta mostra concisamente o que pretende dizer no corpo do seu poema. Já a invocação é a súplica que o poeta dirige à divindade ou às musas para que lhe revele as causas sobrenaturais do acontecimento que vai narrar.
Além disso, o poema épico deve possuir verossimilhança, instrução, deleite, maravilhoso e intervenção do divino. A verossimilhança é a conformação do poema com as nossas opiniões; a instrução, necessária na epopéia, é a exortação ou indução do homem à virtude, à prática do bem; o deleite se consegue pelo interesse que o poeta inspira aos leitores, conferindo a cada um dos seus personagens um caráter diferente e digno de louvor, fazendo descrições e narrações agradáveis, importantes e maravilhosas; o maravilhoso deve perpassar todas as partes da epopéia, mas combinado com o verossímil, de maneira que não pareça incongruente; e a intervenção divina é o que confere o maravilhoso ao poema.
As epopéias mais famosas, completas e regulares, são, entre os gregos, a "Ilíada" de Homero, jônio (século VIII a.C); entre os romanos, a "Eneida" de Vergílio (70-19 aC); entre os italianos, a "Jerusalém libertada" de Torquatto Tasso (1544-1595).
Além destes tres famosos modelos, há também a "Farsália" de Lucano, cordobes (39-65 d.C); a "Tebaida" de Estácio, napolitano (45-96 d.C); a "Henriada" de Voltaire, francês (1694-1778); o "Paraíso Pedido" de Milton, inglês (1608-1674); os "Lusíadas" de Camões, português (1524-1580); a "Ulisséia" do Padre Gabriel Pereira de Castro, português (1571-1632); o "Afonso Africano" de Vasco Mousinho de Quevedo, português (séculos XVI-XVII); a "Málaca conquistada" de Francisco de Sá de Menezes, português (1510-1583); o "Uruguai" de Basílio da Gama, brasileiro (1741-1795); o "Caramurú" do Frei José de Santa Rita Durão, brasileiro (1722-1784); a "Assunção" de Frei Francisco de São Carlos, brasileiro (1768-1829); o "Nictheroi" do Cônego Januário da Cunha Barbosa, brasileiro (1780-1846); a "Confederação dos Tamoios" de Domingos José Gonçalves de Magalhães, brasileiro (1811-1882); o "Evangelho nas selvas" de Fagundes Varella, brasileiro (1841-1875).
Paulo Barbosa.

Um comentário:

Anônimo disse...

gostaria de sabe onde posso encontrar o texto do poema niterói do conego januario da cunha barbosa, editado em exílio