terça-feira, 20 de julho de 2010

QUAL A IMPORTÂNCIA OU UTILIDADE DA FILOSOFIA?

Muitos indagam acerca da serventia ou da utilidade da filosofia. A esta indagação deve-se antes de tudo responder que a filosofia não tem utilidade no sentido de trasnformação do mundo, no sentido de praxis, como apregoam os materialistas de todos os matizes, mas que a verdadeira importância ou utilidade da filosofia reside em poder aperfeiçoar às mais nobres faculdades do homem, a inteligência e a vontade, humanizando-o, desta maneira.
O homem é um ser que transcende o tempo, é um ser inquieto, sempre em busca de algo a mais, não se saciando somente com o ofertado pelas construções humanas seccionadas em especializações nos mais variados campos do saber. Ora, esta sede de conhecimento, e de conhecimento total, global, universal, é saciada ou, expressando-se melhor, profundamente mitigada pela filosofia, visto ser somente este saber - o filosófico - capaz de oferecer ao homem o conhecimento dos fundamentos últimos, dos porquês profundos, acerca dos três objetos possíveis e passíveis do conhecimento humano: o mundo, o homem e Deus.
Vê-se, pois, que as questões ventiladas pela filosofia são as mais vitais e humanas que podem ser concebidas, e que, quando bem resolvidas, nutrem o homem com valores e realidades trancendentais, alimentando-o e saciando-o no seu mais intimo, e melhor ainda, dando razões ou sentido para o viver, o sofrer e o morrer.
Vejamos de forma bem simples, para satisfazer aos simplórios que indagam muitas vezes sarcasticamente qual o valor da filosofia, algumas de suas utilidades:
1ª UTILIDADE: AQUISIÇÃO DO ESPÍRITO FILOSÓFICO
A filosofia verdadeira, aquela que investiga as causas primeiras do ser, quando cultivada pelo homem, o faz contrair o hábito de penetrar até ao fundo das coisas e de tomar as questões pelo aspecto mais importante, desenvolvendo, portanto, qualidades superiores, gosto pelas grandes generalizações e visão sintética, que alcança vastos conjuntos. Contrair o espírito filosófico é sinônimo de ter horror ao vácuo, aos discursos de efeitos, vazios, e à superficilidade, tão vastamente reinante em nossos dias em variados ambientes, até mesmo nos ditos filosóficos.
2ª UTILIDADE: RESPOSTAS AO GRANDE DRAMA HUMANO
O grande problema nosso, que é quem somos nós e o que nos espera, a filosofia verdadeira responde, ao tratar de questões sobre o que é a alma humana, se é mortal ou imortal; se o universo teve início ou é eterno, se é obra do acaso ou de uma Inteligência Criadora; quem é Deus, qual sua ação no mundo; se somos livres ou escravos da fatalidade, se a lei do dever é uma ilusão ou realidade; se é invenção do homem ou expressão da vontade divina.
Estes são problemas que apaixonam a todos os homens, e somente após a resolução destes que o homem está apto a tratar dos demais. É mesmo mais fácil o homem deixar de lado os problemas da química, da biologia, da física, do que prescindir do estudo destes. Quando, porém, embrutecidos pelos sofismas do materailismo e positivismo modernos, prescindem de tão magnas questões, transformam-se em verdadeiros homens da caverna, brutos em peles humanas, sinalizando que ainda são humanos não pela inteligência e vontade de que são dotados, mas pelas doenças tais como a depressão e outras similares de que padecem, doenças estas próprias de quem está em desarmonia com sua natureza, cindido, vivendo unicamente com a parte animal, ao renunciar o exercício do que lhe é tipicamente humano.
3ª UTILIDADE: FONTE DE ALEGRIA E SATISFAÇÃO
Longe da filosofia obstruir as fontes da imaginação, destruir o sentimento, tornar o homem triste, infeliz, abafar a fantasia, ela, pelo contrário, desenvolve-os ao mesmo tempo que disciplina-os oferecendo um objeto digno deles.
A filosofia não faz o homem triste, da mesma maneira que a virtude não o faz infeliz. Sendo a filosofia sabedoria, e desejando todo o homem naturalmente saber, conforme ensina Aristóteles, é ela o alimento apetitoso da alma humana, seu acepipe grandioso, a saúde do espírito, e por esse motivo, causadora de alegria e satisfação para quem a cultiva. Traduzindo, a filosofia afugenta do homem o espírito depressivo, sorumbático, macambúzio e melancólico tão vigentes nos homens modernos que a deprezam, a taxam de sem função ou utilidade. Já proclamava Lucrécio: "Felix qui potuit rerum cognoscere causas, feliz é aquele que pode conhecer as causas das coisas".
4ª UTILIDADE: CAUSA DA INTELECTUALIZAÇÃO OU SABEDORIA HUMANA
Pela própria etimologia, amor da sabedoria, é a filosofia considerada como o conhecimento mais digno do homem, ser inteligente. Por meio dela o intelecto humano é desenvolvido, robustecido e aperfeiçoado com a Sabedoria ou Sapiência, tipo superior de saber que se refere às causas e fins últimos do ser, considerados e apreciados à luz da eternidade - sub specie  aeternitatis. Este saber sapiencial habilita ao homem possuidor a assinalar ou designar todas as coisas ao devido lugar que lhe corresponde na ordenação hierárquica do Universo, ou seja, o habilita a ordenar as coisas, segundo o dito sentencioso repetido inúmeras vezes por Tomás de Aquino: Sapientis est ordinare, compete ao sábio ordenar.
Além da função ordenadora, privilégio do verdadeiro intelectual, o sábio, outras duas são-lhe também inerentes, a de julgar e dirigir, pois sendo os princípios da filosofia absolutamente primeiros, e por isso mesmo, abarcadores da realidade, compete ao filósofo julgar as ciências à luz da filosofia e dirigí-las definindo seus objetos próprios e sua hierarquia, seus princípios e fins.
Daqui infere-se que o verdadeiro intelectual é aquele com inteligência robusta, desenvolvida e aperfeiçoada com a sabedoria que o habilita a ordenar, julgar e dirigir, possuidor de uma amplidão cognoscitiva ao mesmo tempo que profunda, diferindo essencialmente do douto, que aprofunda-se apenas numa especialidade; do culto, que possui conhecimentos diversificados e até mesmo, muitas vezes, satisfatórios; e do erudito, que é o lido, o letrado, conhecedor das literaturas mais variadas.
5ª UTILIDADE: CAUSA DA ATUALIZAÇÃO CIENTÍFICA DO HOMEM
Corolário natural da faculdade de julgar e dirigir as ciências é a atualização ou a maior informação possível acerca da ciência contemporânea que o estudioso da filosofia deve possuir. Esta informação científica serve para que o sábio ilustre de modo satisfatório os princípios e confirme as conclusões filosóficas, interprete, esclareça e assimile os resultados obtidos pelas ciências, enquanto interessam à filosofia e refute as objeções e os erros que pretendam basear-se nos resultados científicos.
6ª UTILIDADE: CAUSA DO ESPÍRITO CRÍTICO E AUTÔNOMO
A Sabedoria confere ao que a busca capacidade de ser crítico e autônomo em relação às opiniões alheias, à opinião dita pública, e demais discursos de vieses persuasivos, muitas vezes, porém, vazios de realidade. Ao robustecer e aperfeiçoar a inteligência, esta torna-se apta a criticar, analisar e decidir acerca dos informes que lhe chegam, discernindo, caso haja, o que tem de fundamentum in re do que é puramente logomáquico e estéril.
Vê-se, então, mais uma utilidade intelectual e prática da filosofia, a de libertar o homem da subserviência e servilidade aos discursos prosaicos e sem fundamentos na realidade de quantos queiram impingir opiniões ou conceitos deletérios e subversivos.
7ª UTILIDADE: CAUSA DA RETIDÃO DA VONTADE
A excelência da uma ciência se infere da excelência do fim para o qual tende. As ciências naturais, física, química, biologia, matemática, tendem para o bem natural; a filosofia verdadeira, por outro lado, comprova a existência de Deus e a imortalidade da alma humana, incitando assim a amabilidade da virtude e a rejeição do vício, ou seja, a retidão da vontade, e desta maneira, dirigindo o homem para seu fim último na ordem natural.
A perfeição conferida à vontade pela filosofia é mais importante que a conferida à inteligência, é mais preciosa, mais útil e mais necessária, pois uma vontade perfeita é aquela que amando as criaturas em suas perfeições, chega-se até ao Autor destas, Deus, como fim último de todas as inclinações humanas.
Com o exposto, responde-se então aos indagadores, sinceros ou sarcásticos, da utilidade da filosofia para o homem, e conclui-se que de todas as ciências, é a filosofia verdadeira a que mais utilidade possui, por resolver os problemas e inquisições que acompanham ao homem desde a idade da razão e lhe conferir capacidades invulgares para utilidade no seu dia a dia.
Paulo Barbosa.

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