quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ANALÍTICA TRANSCENDENTAL: ESTUDO DOS CONCEITOS PUROS A PRIORI

Na Estética Transcendental, primeira parte da Crítica da Razão Pura, vimos quais são as formas a priori do conhecimento sensível, o tempo e o espaço, formas estas que colocam ordem, que organizam os feixes caóticos de sensações provindos das coisas que chegam aos sentidos humanos, transformando-os em representações. Vimos também que tempo e espaço existem dentro da estrutura do homem, que são formas subjetivas e inatas, pois são necessárias, segundo o konigsbergense.

Na segunda parte, denominada Analítica Transcendental, trata Kant de tentar ensinar que após as sínteses realizadas na Estética mediante as formas do tempo e do espaço sobre o material colhido das sensações, sobe-se à sínteses mais elevadas, à sínteses intelectuais, e que as sínteses sensitivas, estéticas, são os materiais usados para a produção das sínteses intelectuais. 
E como se forma estas novas sínteses, as sínteses intelectuais? Para estas há outros elementos a priori, elementos que não são mais o tempo e o espaço, formas da sensibilidade, mas sim são formas do entendimento, chamadas de categorias ou de conceitos puros - reine verstandesbregriffe:

Unidade;
Pluralidade;
Totalidade,
categorias ligadas à quantidade.

Realidade;
Negação;
Limitação,
categorias ligadas à qualidade.

Substância ou acidente;
Causalidade e dependência;
Ação e paixão,
categorias ligadas à relação, sendo as mais fundamentais a substância e a causalidade.

Possibilidade e impossibilidade;
Existência e não existência;
Necessidade e contingência,
categorias ligadas à modalidade, ao modo de ser de uma coisa.

São estas categorias que aplicadas às representações sensíveis, às intuições temporais e espaciais, as tornam inteligíveis, colocando-as no mundo dos objetos, da substância, da causalidade, transformando-as em conceitos. É este o segundo grau da atividade sintética, e esta síntese é chamada de juízo.
Exemplificando: a presença de uma maçã constitui diversas e variadas sensações, e estas sensações, pelas formas sensíveis de espaço e tempo, são constituídas em uma representação unitária hic et nunc, aqui e agora, podendo, então, desta maçã se ter muitas e várias representações em tempos e lugares diferentes. Nestas muitas e várias representações sensíveis da maçã, intervém, no entanto, a categoria da substância, e com esta intervenção ou aplicação desta categoria, forma-se da maçã uma unidade superior, constituindo-a um objeto, uma substância. A partir daí, será a maçã conexa, segundo a categoria da causa, com outras substâncias precedentes e consequentes, de maneira a formar uma cadeia causal.
Vê-se, então, que acima da síntese ou unidade espacial, gerada na primeira atividade descrita na Estética, existe uma unidade superior, que é gerada pela categoria intelectual da substância, denominada substância, e acima da mera sucessão temporal, a categoria de causa introduz uma unidade mais profunda, denominada causa.
Esta unidade no mundo, esta síntese gerada pelas categorias intelectuais, só é possível graças ao Eu transcendental, que não é uma substância espiritual, que conhece e age, mas sim é a atividade sintetizadora, geradora da unidade, que constrói o mundo da experiência, da natureza e da ciência. É este Eu que possui as categorias e as aplica às representações sensíveis transformando-as em inteligíveis, conceituais.
Paulo Barbosa

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