segunda-feira, 15 de novembro de 2010

CRÍTICA DA RAZÃO PURA: UMA TEORIA DO CONHECIMENTO INVERTIDA

A CRÍTICA DA RAZÃO PURA - Kritik der reinen Vernunft de Emanuel Kant (1724-1804) filósofo alemão, nascido em Konigsberg, constitui uma teoria do conhecimento dividida em três partes, após uma longa introdução geral: Estética Transcendental, Analítica Trancendental e Dialética Transcendental.
Neste artigo trataremos do que seja a Estética Transcendental, e em mais dois artigos subsequentes, do que seja a Analítica e a Dialética.
Estética é termo grego que significa sensibilidade, capacidade de experimentar sensações. É neste sentido original que Kant usa o termo na sua Estética Transcendental. Esta é, portanto, o estudo das condições a priori da sensibilidade, é a teoria do conhecimento sensível. Ensina aí o filósofo de Konigsberg que os sentidos humanos, isto é, os órgãos humanos que percebem as sensações, recebem impressões vindas dos objetos, mas estas impressões, denominadas impressões orgânicas, chegadas aos sentidos ainda não são representações verdadeiras. O espírito tem que agir, tem que reagir, quando as impressões tocam, modificam os sentidos, para que se transformem em representações. E como o espírito reage? O espírito reage aplicando às impressões, aos feixes caóticos de impressões chegadas aos sentidos, as formas transcendentais do espaço e do tempo, formas estas que são moldes subjetivos que os homens enquadram, encaixam todos os fenômenos, ou seja, espaço e tempo são categorias que existem dentro do homem, na sua estrutura sensível subjetiva.
O espaço é a forma da sensibilidade externa, é a forma pela qual o homem enquadra as sensações vindas dos objetos externos, e que permite que os objetos fora do homem sejam localizados, sejam percebidos num lugar qualquer.
O tempo, por sua vez, é a forma da sensibilidade interna, daquela sensibilidade que percebe os movimentos interiores da alma, que apreende os fatos da consciência, mas que os apreende como sucessivos, como produzidos uns depois dos outros, que é o que constitui o tempo, ou seja, a sucessão.
Espaço e tempo, segundo Kant, são duas formas necessárias, que não podem deixar de existir na subjetividade do homem, pois são moldes que encaixam todos os fenômenos, são modos subjetivos de perceber e ordenar o sensível múltiplo, as sensações múltiplas que chegam até aos órgãos tanto internos quanto externos. Tudo o que existe, portanto, para Kant, deve ser submetido a estes modos subjetivos de tempo e espaço, e por consequência, o que não cair sob estes não podem ser afirmados como existentes, como Deus, os espíritos, a alma humana, etc.
Espaço e tempo, sendo formas necessárias, não derivam nem das sensações, nem das coisas, e por isso são denominados de formas a priori e transcendentais. A priori, porque anteriores a qualquer experiência, porque independentes de qualquer esforço para serem adquiridas, e trancendentais, porque transcendem, ultrapassam a sensibilidade.

QUE PENSAR DESTA TEORIA KANTIANA?

Toda Crítica da Razão Pura de Kant é a inversão do conceito realista de conhecimento. A experiência humana atesta eloquentemente que o conhecimento é a representação dos objetos como eles são em si, e quando esta representação está de acordo com a realidade, o conhecimento é chamado verdadeiro. Aliás, foi  o judeu Isaac Israeli (c. 855-955), oriental, médico na corte dos califas, que elaborou a célebre definição da verdade como adaequatio intellectus et rei, adequação da inteligência com a coisa, apropriada depois por todos os filósofos e homens do saber.
Para Kant, ao invés, conhecimento não é o ato vital, imanente, mediante o qual o homem representa os objetos à inteligência como são em si, mas conhecer kantianamente é construir o objeto, conhecimento é construção, elaboração da realidade. Não é mais a inteligência que se adequa, que se torna conforme às coisas, mas sim as coisas que devem se amoldar, se adequar à inteligência humana
Com isso, com o homem criando a realidade, e portanto, a verdade ou em termos kantianos, a validade, o homem volta a ser a medida de todas as coisas, e Protágoras, o sofista abderita, vence, e como corolário toda e qualquer discussão, seja científica, seja filosófica, seja religiosa, se torna inútil, e o que consola um tanto é que a mesma crítica kantina se inutiliza.
Paulo Barbosa.

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