sexta-feira, 19 de novembro de 2010

DIALÉTICA TRANSCENDENTAL E RESUMO DA EPISTEMOLOGIA KANTIANA

O segundo grau de unidade, obtido mediante as doze categorias, ainda não é absoluto, e por isso o espírito humano deve buscar a unidade definitiva, buscar as causas últimas, absolutas, para a multiplicidade das séries causais apresentadas pela experiência. Estas causas últimas e absolutas são exigências, são petições do intelecto humano, denominadas por Kant, na Dialética Transcendental de ideias da razão, que são formas a priori existentes em número de três: o mundo - razão ou fundamento dos fenômenos externos -, a alma - razão ou fundamento dos fenômenos subjetivos, internos -, Deus - razão ou fundamento de tudo quanto existe.
Tais ideias são ininteligíveis, ou seja, não podem ser objetos de intuição, e nem podem ser enquadradas em nenhuma das doze categorias, valendo, por esse motivo, somente para o mundo fenomênico, subjetivo, sem nenhuma relação ou valor  no mundo objetivo, real, denominado noumênico por Kant. Não podem ser objetos de conhecimento real, pois são ideias vazias da razão, podendo apenas ser pensadas. Quando os homens, no seu afã de conhecer, de saber, tentam construções intelectuais acerca destas ideias, caem em contradições e antinomias. 
Consequência desastrosa disso, da impossibilidade de se conhecer as ideias da razão - mundo, alma e Deus - é que a metafísica se torna impossível, ou seja, impossível a Cosmologia, a Psicologia, a Ontologia e a Teodicéia, ciências que têm como objeto o noumeno, e não o fenômeno.
O objetivo da Dialética Transcendental é mostrar aos homens as antinomias e contradições surgidas ao tentar conhecer o mundo, a alma e Deus, construindo sistemas doutrinários. É mostrar que não são científicas a cosmologia, a psicologia e a teodiceia, e que a razão humana está ferida, impotente, alquebrada para tais objetos.

Resumindo a teoria do conhecimento kantiana vista até aqui, como início ou ponto de partida existem as impressões orgânicas produzidas pelos corpos que circundam um ser humano. Tais impressões são desconexas entre si, são confusas, são feixes caóticos que imprimem nos sentidos modificações variadas. Neste momento, o impressionado - o ser que recebeu as impressões -   aplica à estas impressões as formas a priori da sensibilidade, que são o tempo e o espaço, formando então a primeira síntese ou unidade, e transformando as sensações em representações. Eis o descrito na Estética Transcendental.

As sensações ou representações obtidas na primeira síntese, síntese espaço-temporal, são submetidas, numa segunda operação sintética, às categorias racionais, e neste momento são elevadas (as representações) a nível de conhecimento propriamente dito, produzindo os juízos necessários e universais. É o que ficou dito na Analítica.

Por fim, estes juízos necessários e universais são reduzidos a uma mais perfeita unidade, a unidades supremas, exigidas pela razão, e desta vez a síntese é operada por aquelas ideias que não podem ser conhecidas, mas apenas pensadas: o mundo, a alma e Deus. 

Na Crítica da Razão Pura, Kant salva as ciências, a matemática e a física, e rejeita a metafísica como conhecimento certo por ultrapassar o domínio do sensível, isto é, por suas conclusões não poderem ser submetidas a nenhuma comprovação empírica. Mesmo salvando as ciências, a matemática e a física, Kant ensina, no entanto, que estas ciências não conhecem a realidade, que não podem conhecer ou captar o mundo fora do homem, mas que são construções subjetivas do espírito, espírito que impõe suas leis aos objetos.
Que pensar de tudo isso? Que pensar de tantas contradições? Creio que devamos repetir, para pensar, um pensador que escrevera: "A teoria de Kant é uma grande alucinação de um gênio, contendo em germe o ceticismo absoluto, o idealismo, o niilismo e o panteísmo" (SANTANA, O materialismo em face da ciência).
Paulo Barbosa.

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