sábado, 27 de novembro de 2010

OCASIONALISMO: SISTEMA DO ABSURDO E DA INUTILIDADE DAS CRIATURAS

Nicolau Malebranche
O OCASIONALISMO é o sistema filosófico que admite existir apenas uma única causa: Deus. As criaturas não são causas eficientes segundas, mas apenas causas ocasionais, ou seja, proporcionam a Deus ocasião para operar. Devido a isso, todos os efeitos que comumente são atribuídos às criaturas, são exclusivamente transferidos a Deus, como por exemplo, no fogo queimando a palha é Deus quem produz o incêndio na ocasião em que ambos, fogo e palha, se encontram.
Este sistema é muito antigo, havendo defensores na Antiguidade antes mesmo de Aristóteles: Parmênides negou a eficiência das causas naturais concedendo-a apenas às substâncias separadas; Anaxágoras admitiu a Inteligência como Causa Primeira.
Na Idade Média, Avicebron (1021-1070), filósofo espanhol de ascendência árabe, negou a atividade causal dos corpos.
Na Idade Moderna, Descartes (1596-1650), filósofo francês, afirmou que o corpo e a alma são substâncias absolutamente independentes, e devido a isso os filósofos posteriores buscaram teorias que permitissem explicar a dependência recíproca de certos atos da alma e do corpo; Leibiniz (1646-1716), filósofo alemão, negou a ação transitiva de todas as criaturas, admitindo nestas apenas ação imanente, e sendo possível influência mútua das substâncias somente pela 'harmonia prévia' do plano divino; Malebranche (1638-1715), filósofo francês tido como o sistematizador e maior expositor desta doutrina na modernidade, afirmou categoricamente que o ocasionalismo é absoluto e se estende a todos os atos das criaturas, não havendo relação de causalidade entre um corpo e um espírito, nem entre um espírito e um corpo, nem de corpo nem de espírito a espírito, pois só Deus opera em todas as coisas.

Que pensar deste sistema? Deve-se responder aos ocasionalistas - e ainda existem muitos que professam esta doutrina, sobretudo no setor do cristianismo herético, protestante - que a atividade acompanha o ser - agere sequitur esse - e o manifesta, ou seja, um ser sem força, um ser sem virtude operativa, não pode ser concebido, sendo então necessário atribuir à criatura uma atividade proporcionada ao seu grau de ser. A negação de atividade na criatura leva logicamente ou à negação do ser ou à sua confusão com o Ser divino. Observando os seres vivos, nota-se que neles tudo é destinado para uma atividade: a vista para ver, o ouvido para ouvir, a raíz para extrair os sumos da terra. Ora, seria absurdo que tudo fosse ordenado para operar, e que não operasse.
Depois, caso as criaturas não pudessem operar, mas somente Deus, todas seriam inúteis, os meios seriam indiferentes e arbitrários; assim, o fogo queima porque Deus quer, e não porque possui esta atividade própria, e poderia, então, Deus inverter arbitrariamente a ordem das operações fazendo com que o fogo refrigerasse, por exemplo. Tudo seria inútil, vão, e não passaria de um absurdo.
Paulo Barbosa.

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