sábado, 4 de dezembro de 2010

TRÊS CONCEPÇÕES DETURPADAS DO ARTISTA E DA ARTE EM TRÊS ESTÉTICAS MODERNAS

Artistas renascentistas

O ARTISTA sempre foi tido e definido o homem que possui sensibilidade, capacidade de sentir e de transmitir emoções estéticas. Em sentido mais restrito, é aquele que se dedica à arte em suas variadas representações - pintura, escultura, arquitetura, música, poesia, literatura -.
A concepção de artista, no entanto, mudou na modernidade para alguns pensadores autores de estéticas. Para estes, o artista é o homem privilegiado, o detentor de capacidades que de muito superam às dos demais homens; é um ser quase divino, que possui acesso aos arcanos da natureza e com estes podem interagir. O poeta e o pintor são os que mais são tidos por divinos ou capazes de transmissão do divino, e é devido a essas ideias que a arte tomou na sociedade contemporânea uma dimensão sacral, circundada por um halo místico, como se por meio dela pudesse ocorrer a catarse das infelicidades, e até mesmo dos pecados humanos.
Vejamos três estéticas, e em cada uma notemos que o artista o é por natureza, por algo que lhe determina ser assim ou representar de tal modo, que só ele pode ter conhecimento autêntico de  Deus e possuir a verdadeira visão do mundo.

Na estética nietzscheana, o artista não cria livremente, não é movido pela inteligência, mas há uma necessidade intrínseca, apreendida no seu querer mais íntimo, que o impulsiona a representar, a produzir obra de arte, sendo esta  concebida como a mais alta função metafísica na vida, e segundo Nietzsche, "a necessidade da arte é necessidade indireta de êxtases sexuais transmitidos pelo cérebro"

Para Scheling, filósofo alemão, o artista é o único que tem possibilidades de chegar ao conhecimento divino; é sim um ser consciente e possuidor de vontade, mas ao mesmo tempo, arraigado na natureza, produz obras de arte inconscientemente, manifestando desta maneira que no seio da divindade é anulada toda contrariedade. É o artista com o seu gênio que promove, na estética schelingeana, a união do homem com a natureza divinizada, e a obra de arte é o organismo que representa esta união

Na estética de William Blake, poeta e pintor inglês, somente o artista é detentor do sentido da unidade original do mundo, sentido este perdido para os demais homens; só ele possui a  capacidade de uma cosmovisão integral, sapiencial, pois além de artista é também visionário.

Vê-se, então, como a definição do artista foi desviada, deturpada para a do homem necessitado a representar e privilegiado, quase divino, sacerdote profano que tem contato direto com a divindade, e detentor de conhecimentos superiores, misteriosos. Compreende-se, também, devido a isso, o halo místico de que é cercado o artista e a obra de arte, como se por esse meio pudessem auferir benefícios de ordem transcendental.
Paulo Barbosa.

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