sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

AUGUSTINISMO: ESCOLA FILOSÓFICA INFLUENTE NA IDADE MÉDIA, MAS SUPERADA PELO TOMISMO

Agostinho de Hipona
O AUGUSTINISMO, ou corrente platônico-augustiniana que tem por fonte as obras de Agostinho de Hipona, foi a escola filosófica que se fez presente na Idade Média até a chegada do Tomismo, filosofia aristotélica reformulada e completada por Tomás de Aquino. Esta escola dominou no século XII, mas sem nenhum relevo ou consciência de si. Somente com a chegada do Tomismo e do Brabantismo (do heterodoxo Siger de Brabant), com as lutas travadas entre si, é que adquiriu corpo e posição definida confessadamente na linha de Agostinho. 
Outra coisa que deve ser sabida é que nem todo o acervo de teses são inspiradas no Doutor de Hipona, pois muitas delas têm origem em doutores medievais anteriores a Tomás de Aquino. Mesmo no século XIII, após as obras tomasianas terem sido já concluídas, grandes pensadores filiaram-se ao augustinismo e o difundiram em obras de peso, como Guilherme de Auvernia, Alexandre de Halés e São Boaventura.
Quais eram as teses principais da escola augustinista, nós sabemos devido a uma carta de João Peckan, arcebispo de Cantuária, enviada ao arcebispo de Lincoln em 1285, onde advoga a favor da doutrina tradicional contra as inovações do tomismo nascente:

1. O conhecimento intelectual se realiza sem o concurso causal dos objetos exteriores, sem os sentido, portanto;
2.  Para se realizar a intelecção, o conhecimento, é necessário a intervenção de uma ação iluminante diretamente de Deus e realizada imediatamente sobre a inteligência. É a famosa Teoria da Iluminação Divina;
3.  A realidade do ser é uma luz, luz imaterial que desce e é da mesma natureza da luz incriada de Deus;
4.  O corpo e a alma são duas substâncias completas, independentes entre si, cada um com sua existência própria;
5.  O composto material possui várias formas substanciais ou almas, e não uma apenas;
6. A matéria prima tem seu ato próprio, ou seja, não é pura potência com capacidade para receber qualquer forma
7.  As substancias separadas ou puros espíritos também são compostos de matéria e forma; esta matéria é sutil, chamada por alguns de espiritual;
8. A alma não se distingue de suas faculdades: inteligência, vontade;
9. A matéria está em posse de princípios ativos depositados por Deus no ato da criação: são as 'razões seminais';
10.  A criação "ab aeterno" - desde toda a eternidade - é um absurdo e, por isso, nunca poderia se dar;
11. O bem é superior à verdade - tese de cunho evidentemente platônico;
12. Por consequência da tese anterior, a vontade (faculdade do bem) é superior à inteligência (faculdade da verdade). - É a tese do Voluntarismo;
13. Tendência para um contato imediato com Deus, mesmo em Filosofia - veja a doutrina da iluminação direta de Deus à inteligência de cada homem -, com o risco de confusão entre a ordem sobrenatural e a natural, entre a teologia e a Filosofia.
Estas são as teorias de cunho augustiniano-platônico que enfrentaram Tomás de Aquino. Nem todas, como já dito acima, são pertencentes a Santo Agostinho, encontradas em suas obras, e não existe um nexo lógico entre elas. Podem ser mesmo reduzidas a duas grandes teses: 1ª) a um espiritualismo exagerado em teoria do conhecimento, com a doutrina do conhecimento intelectual, onde os sentidos não participam nem como instrumentos na formação dos nossos conceitos, visto ser para isso necessário uma intervenção divina, iluminando diretamente o intelecto; e 2ª) em Metafísica, um desconhecimento ou falta de penetração no conceito de ser e de sua gradação ontológica desde o Ato Puro até à Pura Potência.
Paulo Barbosa.

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