segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

ESTIMATIVA E COGITATIVA: ELEMENTOS DE PERCEPÇÃO DO ÚTIL E DO NOCIVO

A ESTIMATIVA, segundo doutrina a Psicologia Racional, é um elemento cognitivo existente no animal irracional que tem por finalidade ou objeto a percepção da utilidade ou nocividade das coisas. Por meio da estimativa o animal percebe um objeto, e além disso, imagina outra coisa ainda não dada, ou seja, o efeito, a ação que ainda ocorrerá da coisa percebida. Configura-se, então, uma verdadeira inclinação para o futuro imaginado.
A ovelha e o lobo
Exemplo disso é quando um animal busca ou foge de certas coisas, não porque sejam boas ou más para sentir ou imaginar, mas por causa de sua utilidade ou nocividade real, embora ainda não existente, ainda longínqua. Isso ocorre, por exemplo, com a ovelha que ao avistar o lobo foge, não porque lhe desagrada sua cor ou seu formato, mas devido ao pressentimento de sua nocividade, de sua maldade, ou com o pássaro que ao construir seu ninho escolhe certo tipo de palha, não porque lhe agrada à vista, mas porque só esta serve para a construção de seu ninho.
A estimativa é, por isso, muito aproximada da inteligência, operando mesmo um princípio de abstração quando capta uma relação ao perceber o benefício ou malefício entre tal coisa e o animal em questão, mas não pode ser dita uma inteligência em sentido pleno, pois lhe falta a captura do universal. A relação captada continua ainda no concreto: esta palha aqui é útil para este ninho que será construído, e não a natureza da palha, a natureza do ninho e a relação do meio para o fim, são capturados ou compreendidos.
Por isso, é falsa aquela definição da inteligência como a apreensão de relações, pois os sentidos também percebem relações, entre dois sons, entre duas cores, entre este ser e eu, etc. O que na realidade é uma das características da inteligência é o poder de perceber a relação como tal, em si mesma, mas não passa isso de um simples caso particular de sua função abstrativa.

A COGITATIVA, por sua vez, é a mesma função estimativa, porém, considerada no homem. Seu nome é diferente exatamente porque o homem é um ser inteligente e sua inteligência exerce influência sobre o comportamento instintivo, aperfeiçoando-o e transformando os instintos de animais em humanos. Tomás de Aquino diz que o instinto no homem é aperfeiçoado "por uma certa afinidade e proximidade da razão universal segundo um certo influxo", "per aliquam affinitatem propinquitatem ad rationem universalem, secundum quandam refluentiam" (S. I. 78, 4 ad 5).
Outro nome que se dá à cogitativa é o de ratio particularis, razão particular. No homem sua finalidade é a de reaproximar casos particulares para daí abstrair regra ou regras empíricas de ação, modos de proceder, sendo a fonte da experiência humana, aquela experiência do chamado 'homem de experiência'.
A cogitativa no homem, assim como a estimativa no animal, são de suma importância para a vida cotidiana, a vida prática, e em relação ao ser humano, durante milênios, antes do surgimento das ciências e das técnicas, foi suficiente para a vida em sociedade, e mesmo após isto, a ciência nunca poderá substituí-la, porque a cogitativa é abstrata e põe leis universais, enquanto a ação sempre consiste em situações concretas.
Paulo Barbosa.

Nenhum comentário: