terça-feira, 4 de janeiro de 2011

QUANTIDADE: ACIDENTE PRINCIPAL DO SER FÍSICO E O ERRO DE DESCARTES

Dentre todos os acidentes que inerem ao ser físico, a QUANTIDADE é o mais fundamental, o mais fácil de se objetivar. É o acidente que significa a extensão, que possui a capacidade de ser maior ou menor, e que tem sua origem na matéria. É a quantidade que expressa a potencialidade da matéria, ou seja, a sua possibilidade de difusão no espaço, de ser divisível e mensurável.
A filosofia clássica definiu muito bem a quantidade como aquilo que dá à substância o ter partes exteriores umas às outras segundo certa ordem, ou em outros termos, é aquilo que constitui um todo divisível em partes intrínsecas distintas.
A quantidade possui duas espécies: quantidade contínua e quantidade descontínua
A contínua é a quantidade de extensão ou de grandeza, sendo o contínuo definido por Aristóteles como uma totalidade na qual as partes não somente se tocam mas também se confundem, como a linha, por exemplo, que é divisível em porções de linha na qual as partes estão atualmente confundidas.
A descontínua que é a quantidade numérica ou número, quantidade que é dividida em partes descontínuas, separadas.
A extensão, que é o efeito próprio da quantidade contínua, é o acidente primário da substância,  que a manifesta como composta de partes integrantes exteriores umas às outras, tornando-a divisível em potência.

TEORIA CARTESIANA DA QUANTIDADE

Ao se questionar a natureza da extensão, no entanto, algumas respostas foram dadas na História, e uma delas, diferindo da que explanamos acima, foi a solução mecanicista de René Descartes. Este, recolhendo a antiga concepção de Demócrito, situava a essência dos corpos na extensão, ou seja, ensinava que essência e extensão eram a mesma coisa, afirmando que entre ambas havia apenas uma distinção de razão. Este filósofo não reconhecia a diferença de uma e outra, ignorando que a substância é o que dá ao corpo a existência e lhe confere a unidade, enquanto que a quantidade tem por finalidade ordenar em partes e tornar divisível tal corpo, funções estas opostas, originadas de princípios efetivamente distintos e dos quais o primeiro é pressuposto pelo segundo. Depois, a quantidade de um corpo pode sofrer mudanças, sem que sua substância tenha sido modificada, sendo a quantidade, também, da ordem dos objetos perceptíveis - que caem sob os sentidos -, enquanto que a substância como tal só é alcançada pelo intelecto.
Estas considerações acerca da quantidade, apesar de parecerem sem finalidade alguma em nossos dias, são importantes, pois a física moderna atira contra a física antiga tachando-a de essencialmente qualitativa, esquecendo-se, ou mesmo ignorando, que a filosofia clássica, aristotélica, dava tamanha importância à quantidade dimensível, definindo-a como o acidente ou a disposição mais profunda do ser material, objeto da ciência física.
Paulo Barbosa.

Nenhum comentário: