domingo, 2 de janeiro de 2011

A SORTE E O ACASO: ACONTECIMENTOS QUE NOS SURPREENDEM

Muito se fala em acaso, em 'por acaso', referindo-se a acontecimentos que surgem sem que haja expectativa para tal da parte do homem. Segundo Aristóteles, o que caracteriza o acaso e o distingue dos outros acontecimentos é a sua raridade, pois o que ocorre com frequência, sempre, ou mesmo na maioria dos casos - ut in pluribus -, é com certeza efeito de causas que agem de maneira uniforme, conforme sua própria natureza, mas o que ocorre, pelo contrário, senão ocasionalmente, parece escapar à influência ou determinação destas causas: são os fatos excepcionais, em número menor de casos - ut in paucioribus -, conforme fórmula filosófica.
No entanto, segundo Hamelin, não é somente a raridade o que caracteriza o acontecimento casual ou o acaso, pois além disso há necessidade de que se trate de fatos pertencentes à ordem da finalidade, ou seja, que seja suscetíveis de serem objetos de escolhas de uma vontade humana, e que também, estes fatos, não tenham sido queridos ou perseguidos efetivamente por um fim. É deste tipo, para ilustrar, o encontro casual ou fortuito, na praça, de seu devedor pelo credor. Este é um fato do acaso, é excepcional, não foi premeditado ou marcado com antecedência.
Aristóteles, na Física, II, c. 5, 197 a 33-34, ensina que "A sorte e o acaso são causas por acidente, relativamente à coisas que são suscetíveis de não se produzirem nem absolutamente, nem na maior parte do tempo, e, além disso, que podem ser produzidos em vista de um fim", "Utrumque scilicet fortuna et casus est causa per accidens in iis quae contingunt non simpliciter, id est neque semper neque frequenter; et utrumque est in iis quae fiunt propter aliquid".
Aqui deve-se notar a distinção feita por Aristóteles entre sorte (tuke) e acaso (automaton). O acaso é  termo genérico que envolve todos os acontecimentos casuais, fortuitos, enquanto que a sorte é o que pode ser invocada pelos seres que recebem benefícios de modo inesperado ou imprevisto. Desta maneira, naquele encontro na praça, o credor é o sujeito ou objeto da sorte, pois recebeu um benefício inesperado.
Paulo Barbosa.

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