Apesar da crença na liberdade humana - também denominada de livre arbítrio - ser tão arraigada e legítima, tão profunda e universal, como a da própria existência humana, nem por isso faltaram, tanto na antiguidade quanto na modernidade, escolas filosóficas que a impugnassem, como os materialistas e panteístas, ou a sofismassem por meio de falsas explicações dos fatos psicológicos, sobretudo daqueles que dependem da vontade. Dá-se o nome de Fatalismo ao sistema que, direta ou indiretamente, rejeita ou contesta o livre arbítrio.
COMO REFUTAR O FATALISMO?
Há duas maneiras de refutar o fatalismo de qualquer espécie que seja: uma direta, que consiste em retificar as falsas análises dos fatos psicológicos, opondo-lhes o testemunho irrefragável da consciência e as crenças instintivas do gênero humano, e outra indireta, que consiste em mostrar os perniciosos absurdos que naturalmente derivam de tal sistema.
Aqui iremos expor a segunda maneira, a indireta, mostrando as principais consequências do fatalismo, que levam o homem a se degradar até ao nível dos animais infra-humanos. Denomina-se este modo de argumentar de 'ab absurdo', por partir tal sistema de afirmativa absurda - que o homem não possui liberdade -, e por conseguinte, gerar as seguintes consequências despropositadas:
1º) a aniquilação de toda ordem moral pela supressão das condições do bem e do mal, e portanto, de toda a imputação moral das ações, de toda a ideia de deveres e direitos, mérito e demérito, virtude e vício, louvor e vitupério, honestidade e vileza, aprovação e remorço da consciência, etc.;
2º) a abolição de toda crença religiosa como inútil, e portanto de toda esperança de prêmios ou receio de penas numa vida futura, por falta de fundamento e de objeto;
3º) a proscrição de toda a legislação como irracional e inútil, por não ser aplicável a puros autômatos, irresponsáveis pelos seus atos;
4º) a eliminação de toda a deliberação como igualmente iracional e inútil,e portanto de toda a ideia de prudência, conselho, dignidade, etc.;
5º) a supressão de todas as condições e vantagens da educação individual e social, como destituídas de fundamento, de motivo e de eficácia;
6º) finalmente, a anulação dos mais nobres sentimentos que caracterizam a dignidade e preeminência da natureza humana, a par com a razão e a liberdade, tais como o desejo do próprio aperfeiçoamento e dos seus semelhantes, o amor da ciência, da honra e da glória, a generosidade, a gratidão, etc., e portanto a degradação moral do homem para a categoria dos animais.
Óbvio que o bom senso da humanidade repele com indignação tão estranhas consequências, e portanto a hipótese que lhes serve de princípio.
Paulo Barbosa.
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