quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

SENTIMENTOS, SENSAÇÕES, AFETOS, PAIXÕES, INSTINTOS: AFINAL, QUE SÃO?

Muito se trata dos sentimentos, pouco se sabe ou se define o que são realmente. Sentimentos são as modificações e afecções passivas da alma que resultam de seus diversos estados e tendências naturais ou dos atos das suas faculdades, independentemente do organismo, como o sentimento de alegria, de tristeza, das operações da inteligência e da vontade, de um desejo, paixão, etc

ESCLARECIMENTO

Ao se definir desta maneira, deve-se, porém, distinguir cautelosamente as sensações e os sentimentos das impressões fisiológicas que os precedem e excitam, ou são suas consequências, a fim de não se cair no materialismo. Cumpre também distinguir as sensações e sentimentos das percepções que ordinariamente os acompanham ou seguem, a fim de evitar o idealismo, porquanto o fenômeno sensível, considerado em si, é um fato puramente subjetivo, e pode mesmo dar-se sem o conhecimento do objeto que o causa, enquanto a percepção exige o concurso do sujeito modificado e do objeto que o modifica. É preciso, finalmente, não confundir os desejos e as tendências instintivas com a vontade, o que levaria ao fatalismo, pois a atividade instintiva, assim como o prazer ou o sofrimento que a excita, é fatal e providencial, enquanto a atividade voluntária é toda pessoal e só depende da iniciativa do sujeito. É verdade que a vontade intervém algumas vezes no desenvolvimento do ato instintivo para o continuar ou suspender, ora eficaz, ora inutilmente, mas isso não altera a natureza desse ato que se determina por si mesmo. Em relação à distinção do sentimento e do instinto, é mais fácil de ser fixada. O instinto consiste no complexo das tendências naturais, e representa a atividade primitiva e espontânea da alma, enquanto o sentimento é um fenômeno puramente passivo, que ora excita, ora é excitado por essa mesma atividade. São companheiros inseparáveis, e pode-se mesmo afirmar, duas fases de um mesmo complexo fenômeno.

AS DUAS CLASSES DE SENTIMENTOS

Tanto as sensações quanto os sentimentos são de uma variedade infinita, correspondente aos inumeráveis modos, estados e funções da vida orgânica e psicológica que os caracterizam. Podem, porém, uns e outros reduzirem-se a duas classes gerais, compreendendo-se na primeira todas as modificações primitivas da alma que resultam imediatamente da sua própria constituição, estados e operações, e das suas relações com o organismo; na segunda, as afecções especiais de prazer ou dor, que acompanham ou seguem algumas daquelas, segundo elas satisfaçam ou contrariem as tendências e os fins da natureza humana. As primeiras fornecem à consciência os elementos subjetivos das ideias, e podem existir sem as segundas. São chamadas de sensações representativas. As segundas, por sua vez, supõem sempre aquelas como seu fundamento,  servem de incentivo a toda a atividade humana, e constituem uma lei providencial e tutelar da natureza humana. São chamadas de sensações afetivas.

AS TRÊS ESPÉCIES DE SENTIMENTOS AFETIVOS

O sentimentos afetivos são subdivididos em três espécies que correspondem às três formas da sensibilidade: física, intelectual e moral.
Pertencem à primeira as sensações agradáveis ou desagradáveis, ocasionadas pela satisfação ou permanência  das necessidades e apetites da natureza orgânica, e pelo exercício, normal ou anormal, de suas funções. Estes sentimentos têm por fim a conservação e o desenvolvimento regular do organismo, e são conhecidos também pelos nomes de prazeres e sofrimentos físicos.
Pertencem à segunda os sentimentos de agrado ou desagrado chamados intelectuais ou lógicos, que têm por fundamento o amor da verdade, e os estéticos, que se fundam no amor da beleza. São excitados na alma por ocasião do exercício, regular ou irregular, da inteligência, e variam segundo as suas diversas faculdades e modos da sua aplicação, ou segundo os diversos objetos e maneiras de os considerar. São conhecidos também pelo nome de prazeres e cuidados do espírito, e podem ser descritos como incentivos naturais para o cultivo das ciências e das artes.
Por fim, pertencem à terceira classe os sentimentos denominados morais, que têm a sua origem uns nas propensões naturais do homem, como o amor próprio, o amor ao semelhante, a sociabilidade, a simpatia, etc., e outros na concepção racional do bem e da ordem moral. São tão variados como o são as afecções, propensões e desenvolvimentos do coração humano, e as relações que o ligam aos outros seres racionais ou ao seu fim. Estes sentimentos são os incentivadores das virtudes e dos vícios, e são chamados de prazeres ou mágoas do coração.

DISTINÇÃO ENTRE AFETOS E PAIXÕES

Os sentimentos afetivos ou excitam no homem desejos ou os satisfazem: eis aqui a razão da diferença entre a dor e o prazer. Quando o sentimento e o desejo se tornam enérgicos e habituais a ponto de prenderem a atenção da alma e impedirem ou dificultarem a deliberação, tomam o nome de afetos, e se estes se tornam muito veementes a ponto de chegarem a perturbar a tranquilidade do espírito e comprometer a liberdade, tomam o nome de paixões, tais como podem ser a alegria e a tristeza, o amor e o ódio, a cólera, a audácia, etc.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA SENSIBILIDADE

Os principais caracteres que distinguem a sensibilidade da inteligência e da vontade são a passividade, a fatalidade e a mobilidade, ou seja, as sensações, os sentimentos, os desejos, os afetos e as paixões, considerados em si mesmos, são obra do instinto, independentemente da reflexão e da liberdade, e variam não só entre os diversos indivíduos, mas até num mesmo indivíduo, segundo os seus diversos estados e disposições físicas ou morais. Bem longe de gerar ou causar o conhecimento ou a volição, a sensibilidade, antes, precisa de ser esclarecida pela inteligência e dirigida pela vontade.
Contudo, a sensibilidade é sujeita às leis constitutivas da natureza humana, e tem por finalidade a sua conservação e aperfeiçoamento. É por ela que a atividade intelectual é despertada e a razão advertida dos fins da existência humana, e das qualidades dos objetos com que o homem deve se relacionar. É ela, a sensibilidade, quem fornece à vontade os elementos para as suas determinações, e a constitui em via de atingir o fim para o qual o homem foi criado, conduzido-o ao gozo do bem pela prática da virtude.
Paulo Barbosa.

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