quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

LITERATURA LATINA (VII): A SÁTIRA, GÊNERO NASCIDO NO PERÍODO ARCAICO E AUTÊNTICAMENTE ROMANO

INTRODUÇÃO GERAL

A sátira, em latim satura, é um poema curto, geralmente em hexâmetros, que simultaneamente versa assunto sério - moral, político, etc. -, com gracejos ou zombarias.

Compreendida desta maneira, a sátira é de origem autênticamente romana, e não gênero recebido dos gregos, como a comédia e a tragédia. Quintiliano diz: "Satira tota nostra est" (X, 1, 93). Os gregos, no entanto, tiveram muitos poetas zombeteiros, como por exemplo Arquíloco de Paros e os autores de jambos, como Aristófanes e os cômicos, mas não possuíam um gênero literário especial análogo à sátira.

A sátira, conquanto escrita em versos, está bastante próxima da prosa. Uma de suas peculiaridades é não exigir o estro, ou seja, a inspiração poética, nem a graça e elegância, pois é uma dissertação zombeteira, e por isso mesmo, muito conveniente ao gênio romano.

O assim considerado 'pai da sátira' romana é

GAIO LUCÍLIO

Gaius Lucilius
LUCÍLIO (180-102 a.C.), natural de Suessa [ou Sessa] Aurunca, região italiana da Campânia. Pertencia a uma família equestre, e possuía alguns bens. Manteve relações com alguns gregos ilustres, como o filósofo Clitômaco, que lhe dedicou um livro. Passou a maior parte de sua vida em Roma, mas esteve também na Hispania, onde serviu sob as ordens de seu amigo Cipião, assistindo à tomada de Numância. Segundo relato de São Jerônimo morreu em Nápoles.

OBRAS

Escreveu 30 livros de sátiras, dos quais restam apenas fragmentos, em grande número, mas muito curtos - cerca de 1350 partes de versos. Suas sátiras tratavam de toda sorte de assuntos: política, descrição dos costumes - o luxo, a avareza, a superstição -, literatura, e até gramática, métrica, ortografia. 

Lucílio não tinha medo de investir contra os magnatas da época com a mesma veemência com que atacava os pobres. 

Livro de Sátiras
Seus livros de sátiras foram sendo publicados aos poucos, um a um, ou talvez por grupos. A coletânia atual deve ter sido organizada, provavelmente, após a morte do poeta. 

A maioria das sátiras foram compostas em hexâmetros, porém Lucílio começara a usar o setenário trocaico, servindo-se, também, do dístico e do senário iâmbico.

Sobre o talento do satírico poeta, deve-se confessar que é difícil emitir um juízo. Pode-se, no entanto, afirmar que possuía espírito mordaz e polêmica vigorosa e temível. Investia com energia e sabia ferir profundamente, crivando seus adversários com lanças pontiagudas e aceradas. 

O estilo parece ter sido inferior, bastante natural sim, mas desleixado, vulgar e sem graça, a ponto de Horácio denominá-lo de "estilo lamacento". A própria métrica é frouxa e cheia de imprecisões, incorreções. Somente com Horácio chegará a sátira a gênero polido e perfeito.

Apesar de tudo isso, continuou Lucílio popular em Roma por longo tempo. Cícero o citou muitas vezes, e até à época de Quintiliano, teve admiradores que o preferiam a todos os demais poetas. Contudo, a partir do século II, começou a ser preterido, e no século IV somente os gramáticos o liam.
Paulo Barbosa.

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