TITO LUCRÉCIO CARO
BIOGRAFIA
LUCRÉCIO (99-55 a.C.). Sua vida é-nos pouco conhecida, porém se sabe que foi o maior expoente da poesia filosófica e, junto com Cícero, criador da nomenclatura filosófica. Segundo narra São Jerônimo, ficou louco em consequência de uma poção amorosa - 'amatorio poculo in furorem versus' -, e foi nos intervalos de lucidez de compôs sua obra. Aos 43 se suicidou, e segundo o gramático Donato, faleceu no mesmo dia em que Virgílio recebia a toga viril.
OBRA
Escreveu o poema filosófico DE RERUM NATURA, onde expõe a doutrina do epicurismo, doutrina esta que tinha por finalidade libertar os homens dos temores causados pela morte ou pelas crenças em deuses. É dedicado o poema a Mémio, que Lucrécio quer convencer.
Compreende seis livros, sendo os dois primeiros para exposição dos princípios dos seres - sobre a natureza das coisas -, os dois seguintes, a natureza do homem, e dos dois últimos sobre o mundo exterior e os fenômenos naturais.
O plano do poema, em seu conjunto, é regular, porém, deixam a desejar os pormenores da composição. Há grande número de repetições e lacunas, e é bem possível, segundo abalizados críticos, que Lucrécio não tenha chegado a dar a última demão à obra.
PUBLICAÇÃO
São Jerônimo diz que foi Cícero quem publicou o poema, e na verdade, encontra-se na correspondência de Cícero do ano seguinte à morte de Lucrécio uma alusão ao De Rerum, o que parece confirmar a informação prestada por São Jerônimo.
FILOSOFIA DE LUCRÉCIO
Lucrécio foi adepto do sistema de Epicuro, e o seu poema é a mais minuciosa exposição de conjunto que nos foi legada do epicurismo.
Toma a Física de Demócrito, vendo tão somente átomos no mundo, e caindo assim no puro materialismo. Até mesmo a alma é atômica, dissolvendo-se assim com o corpo.
Quando se coloca a explicar os fenômenos físicos, Lucrécio muitas vezes é admiravelmente exato, cometendo, entretanto, numerosos erros grosseiros, como por exemplo, pergunta certa vez se não se forma todos os dias uma nova lua para substituir a que apareceu na véspera. Em outra ocasião, admite que os leões têm medo de galos e para isso dá a razão de que os galos dardejam na pupila dos leões átomos agudos que os ferem.
A moral é hedonista, ou seja, do prazer. Lucrécio aconselha gozar com moderação para que se goze o máximo possível, e recomenda que se evite a ambição ou todo sentimento que possa perturbar a alma. Egoísta, não aconselha nem o devotamento, nem mesmo a benevolência, mas regozija-se com a desgraça alheia, não por ser agradável, diz ele, ver sofrer, mas porque é aprazível ver de que males nós mesmos estamos isentos.
Ao que tudo indica, esta filosofia gozadora não levou Lucrécio à felicidade, pois sua obra reflete um pessimismo sombrio.
A POESIA
Foi Lucrécio um grande poeta, colocado por muitos até mesmo acima de Virgílio. Deve-se, entretanto, reconhecer que sua obra não é poesia de ponta a ponta, mas em muitos lugares, seca exposição didática.
Certo que algumas páginas ostentam grande beleza, com muitas digressões, invocações, quadros encaixados como que para repousar o leitor. São nestes pontos que se ressalta o vigor da inspiração, o entusiasmo, a sinceridade de sentimento. Observa-se aí imaginação clara, precisa, ora ardente e luminosa, ora sombria e apavorante. Aqui e ali, encontra-se, até mesmo, um dito gracioso e delicado.
Depois, o assunto escolhido por Lucrécio é muito difícil de se tratar em versos e, além do mais, a língua latina não era, como a grega, rica e variada em expressões, e disso ressentiu-se Lucrécio queixando-se várias vezes.
ESTILO
Com muita frequência é pobre o estilo lucreciano na expressão: as mesmas palavras, as mesmas expressões reaparecem várias vezes, e ainda encontram-se a cada passo fórmulas inteiramente prosaicas, como por exemplo: Illud in his rebus, Et quoniam docui... Encontra-se até um: Etsi praeterea tamen!
Todos estes defeitos ofuscam o brilho de passagens justamente célebres.
Quanto aos arcaísmos encontrados na obra, são devidos a que Lucrécio imitou Ênio. O mesmo se pode concluir também do muito uso das aliterações.
REPUTAÇÃO
O poema de Lucrécio, quando apareceu, depertou pouca atenção. Cícero refere-se a ele apenas uma vez em sua correspondência e não o menciona em suas obras filosóficas, onde tanta vezes se ocupa do epicurismo.
Os poetas da Era de Augusto guardam quase o mesmo silêncio. Virgílio, no entanto, sem citar o nome, fez alusão a Lucrécio nas Geógicas II, 490-492:
"Felix qui potuit rerum cognoscere causas
atque metus omnes et inexorabile fatum
subiecit pedibus strepitumque Acherontis avari"
"Feliz é aquele que pode conhecer as causas das coisas
e que colocou debaixo dos pés
todo o temor e tumulto do avaro Aqueronte".
No Império, diversos escritores o citaram, tais como Quintiliano, Vitrúvio e, naturalmente, o arcaizante Frontão. Certos apologistas cristãos, como Arnóbio, Lactâncio, tomaram dele argumentos contra o paganismo. Na Idade Média, entretanto, caiu em quase total esquecimento.
No Renascimento foi resgatada sua fama, mas foi especialmente no século XVIII que os filósofos o exaltaram. Foi esse o motivo que levou o cardeal de Polignac a refutar as ideias lucrecianas com um poema em versos latinos intitulado O ANTI-LUCRÉCIO, publicado em 1747, após a morte do autor.
Paulo Barbosa.
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