A eutanásia é a arte de promover a morte de maneira indolor e branda. Cientificamente, é o sistema de supressão da vida mediante medicamentos e recursos suavizantes a quem esteja sofrendo doença incurável e profundamente aflitiva. Quanto ao suicídio, todos sabemos que consiste em dar cabo à própria vida.
Na História, encontramos estas práticas, sobretudo a eutanásia, entre os povos primitivos, em tribos nômades que, tendo de emigrar, sem poder, contudo, levar consigo os membros enfermos do clã, preferiam exterminar a vida destes a deixá-los entregues às intempéries do clima ou à vingança de inimigos.
No mundo civilizado da Antiguidade, registra-se o caso de Esparta, onde ao nascerem, as crianças anormais ou aleijadas eram eliminadas.
Entre os filósofos romanos, dividiram-se nesta questão Cícero e Sêneca. O primeiro (+ 43 a.C.), afirmava ser ilícito ao homem dar fim à sua vida sem o mandato explícito de Deus que a concedeu. Assim, no De Senectute 20, diz:
"A maneira mais bela de morrer é com a inteligência intacta e os sentidos despertos; deixar a natureza desfazer lentamente o que ela fez".
Mais adiante, assevera:
"Pitágoras proíbe que abandonemos o nosso posto - ou seja, a vida - sem a ordem formal do Comandante-em-chefe que no-la deu, ou seja, Deus".
O Filósofo Sêneca, pelo contrário, (+ 66 d.C.), seguidor do estoicismo, dentre os filósofos greco-romanos, defendeu o suicídio, e por conseguinte, a eutanásia. Expressou-se nos seguintes termos:
"Somente por causa da morte a vida não é uma punição. Debaixo dos caprichos e das vicissitudes da fortuna, posso conservar minha cabeça ereta. É que tenho alguém a quem posso recorrer.
Vejo diante de mim cruzes de muitas formas. Vejo diante de mim instrumentos de tortura que podem ser adaptados a cada membro, a cada músculo, a cada nervo de meu corpo. Mas vejo também a morte. Ela me protege dos meus selvagens inimigos e dos meus orgulhosos concidadãos. A escravidão mesma perde sua amargura, quando, com um simples passo, eu posso conquistar a liberdade. Contra todos os assaltos da vida, eu tenho o refúgio da morte.
Vejo diante de mim cruzes de muitas formas. Vejo diante de mim instrumentos de tortura que podem ser adaptados a cada membro, a cada músculo, a cada nervo de meu corpo. Mas vejo também a morte. Ela me protege dos meus selvagens inimigos e dos meus orgulhosos concidadãos. A escravidão mesma perde sua amargura, quando, com um simples passo, eu posso conquistar a liberdade. Contra todos os assaltos da vida, eu tenho o refúgio da morte.
E, se posso escolher entre uma morte de tortura e uma morte boa e frágil, porque não escolherei esta? Assim como escolho o navio no qual viajarei ou a casa na qual habitarei, assim escolherei a morte pela qual deixarei a vida. O homem deve procurar a aprovação dos outros nos negócios da vida; sua morte é assunto seu.
A lei eterna nada decretou de melhor que isso: que a vida tenha uma só entrada, mas muitas saídas. Porque sofrerei as agonias da doença e as crueldades da tirania humana, quando posso emancipar-me de todos os tormentos e lançar fora todas as cadeias?
Por uma única razão a vida não é um mal: porque ninguém é obrigado a viver".
Com a chegada do cristianismo, o suicídio, assim como a eutanásia, foram repudiados pelos pensadores ocidentais. Agostinho de Hipona (+ 430), por exemplo, opôs-se a ambas atitudes mostrando que a personagem bíblica Jó, mesmo em meio a penosos sofrimentos, se mostrou paciente e submisso a Deus.
Na Idade Média era unânime os autores cristãos sentenciarem contrariamente ao 'suicídio' e 'homicídio indolor'.
POSIÇÃO E ARGUMENTO DA MORAL CRISTÃ
A moral cristã veta o suicídio e a eutanásia, argumentando que a vida é dom de Deus e esta foi concedida ao homem para que a conserve e administre em conformidade com a sua vontade, que é sábia. Não sendo, portanto, o homem doador ou autor de sua vida, não lhe compete ser destruidor da mesma.
Complementa ainda o raciocínio moral que as alegrias ou tristezas que alguém possa experimentar ao viver, não são critérios para se avaliar ou aquilatar o valor de sua existência, como também o grau de produtividade ou a capacidade de trabalho da pessoa não podem ser parâmetros para o mesmo.
Uma vida que humanamente é julgada carente de utilidade, pode possuir plena razão de ser, pois, ensina a moral cristã, a grandeza do homem consiste primariamente em estar submetido à vontade de Deus e executá-la com amor.
Enfim, tanto o suicídio quanto a eutanásia não passam de expressões de materialismo e hedonismo desbragados, sistemas que pressupõem ser a vida humana justificada somente pelo gozo dos sentidos ou pelo rendimento laboral que o homem pode apresentar.
Paulo Barbosa.
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