quinta-feira, 16 de junho de 2011

EUTRAPELIA: VIRTUDE REGULADORA DA BRINCADEIRA


É direito natural do homem se recrear e repousar, da mesma maneira que se tem direito a se alimentar. O recreio, a brincadeira, até certo ponto, constituem fatores de conservação do indivíduo, dada a limitação das forças humanas e a necessidade de as restaurar mediante a interrupção do trabalho. Ora, um dos elementos que recreia, que distrai mais condizente com a autêntica dignidade humana é o cultivo da arte. Esta emancipa o homem das preocupações materiais e do afã utilitarista, colocando-o em contato com o Belo e com os valores do espírito, permitindo-lhe, destarte, uma vida mais intensa como homem e um pouco menos como máquina.

Para que a arte, todavia, cumpra o objetivo de emancipar o homem da faina diária elevando-o até a Beleza, deve ela servir à nobreza espiritual da criatura racional e não aviltá-la, como, por exemplo, desencadeando as paixões mais baixas da natureza, renunciando, desta maneira, a fomentar e edificar a grandeza do homem.

Os filósofos antigos, dentre os quais Santo Tomás de Aquino, ensinaram existir uma virtude própria que tem como objetivo submeter ao controle da razão todos os divertimentos do homem. Esta virtude é a EUTRAPELIA, palavra grega que significa "disposição acerca dos prazeres graciosos ou nobre".

A eutrapelia, portanto, é a virtude natural que visa regular o comportamento humano no referente às recreações, às brincadeiras, preceituando que nunca o homem deve se entregar totalmente ao gozo das coisas sensíveis, mas que tem de subordiná-los sempre aos prazeres mais elevados e nobres, os do espírito, que têm como meta levar a criatura a aderir ao Sumo Prazer, ao Sumo Bem. É a este Sumo Bem que, mediante o cultivo ou a aplicação dos sentidos à beleza finita, que se deve chegar. É para melhor conhecê-lo e amá-lo que o homem deve servir-se dos recreios que as criaturas lhe proporcionam.
Paulo Barbosa.

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