Quanto ao momento em que a alma é infundida ou penetra no embrião, os sábios da Antiguidade eram de parecer que havia um certo intervalo entre a fecundação do óvulo e o aparecimento da alma racional.
HIPÓCRATES, do século IV a.C., famoso médico grego, por exemplo, ensinava que a alma só era imersa no corpo após trinta dias depois da fecundação.
ARISTÓTELES (+ 322 a.C.), por sua vez, opinava que o feto masculino recebia a alma racional somente após quarenta dias em que a fecundação fora realizada, enquanto para o feto feminino admitia um intervalo de oitenta dias. Este julgamento aristotélico era devido a não haver nas primeiras semanas após a concepção a necessária organização celular para constituir o corpo humano, sede da alma racional. Então, acreditava que durante certo tempo o feto só possuía organização e atividades de vida vegetativa - nutrição e crescimento -, e por isso era apenas atribuído ao feto a presença de um princípio vital meramente vegetativo. Em seguida, o Filósofo julgava haver no embrião organização e movimentos espontâneos característicos da vida sensitiva, atribuídos, consequentemente, a um novo princípio vital, a alma sensitiva, originada da anterior. Somente após estas fases é que Aristóteles professa haver no feto a organização típica do corpo humano, no qual pode viver uma alma intelectiva ou racional.
Hoje em dia, porém, com o progresso da fisiologia, a filosofia admite que desde a concepção há no embrião a organização própria de um vivente humano, o quer dizer que, desde a fecundação o novo ser é dotado de alma racional. É ponto incontroverso que as faculdades racionais ou intelectivas só se podem manifestar após os órgãos da vida sensitiva atingirem certo desenvolvimento, pois a alma intelectiva, embora não seja material, depende da matéria ou das faculdades sensitivas para colher as primeiras notícias que a inteligência irá elaborar e delas abstrair as noções universais, as definições.
Daí também se conclui que a alma racional tendo funções que ultrapassam as faculdades físicas, corpóreas, não podem estas provirem da matéria, pois "o menos perfeito não pode por si produzir o mais perfeito". Até aqui a razão humana. A fé, porém, indo mais além, ensina que é Deus quem cria e infunde diretamente a alma no embrião no momento da fecundação.
Outra consequência extraída do acima visto, é que havendo vida humana desde o primeiro momento da concepção, o aborto direto é sempre crime repugnável e hediondo, pois é um infanticídio, mesmo sendo praticado nos primeiros tempos da gestação. Não se pode mais distinguir, como outrora, entre feto animado e feto inanimado, e mesmo na Idade Média, quando as ideias de Aristóteles eram adotadas e seguidas, os filósofos retos condenavam o aborto em qualquer época que fosse efetuado.
Paulo Barbosa.
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