É normal que o ser humano, ao agir, busque um bem, seja este real ou, até mesmo, aparente. O bem aparente é aquele que para o sujeito parece ser bom, embora na verdade não o seja. Ensina a Filosofia que ninguém age visando o mal em si e por si, mas unicamente na medida em que ao mal se prende um qualquer bem. Desta maneira, o próprio suicida, ao desejar e buscar a morte, deseja e busca algo que no momento lhe parece ser um bem, como por exemplo, o repouso ou a cessação da luta.
Os filósofos fazem, entretanto, distinção no bem, ou seja, o bem possui três modalidades, podendo ser honesto, deleitoso e útil.
O bem honesto é tudo aquilo que se conforma com as leis ou normas da razão e da moralidade autêntica. Possui em si mesmo a apeticibilidade e é manifestado ao homem no seu íntimo pelos ditames da consciência. Exemplo desta espécie de bem é a virtude.
O bem deleitoso é o objeto que dá satisfação, deleite às inclinações sensuais e intelectuais do indivíduo, seja homem ou animal, e, de certa forma, se destina a saciá-las, como por exemplo, o estudo para o homem.
O bem útil é aquilo que serve de meio ou instrumento para se alcançar um fim determinado, como, por exemplo, um remédio amargo que se destina à consecução da saúde.
Feita esta distinção, não resta dúvida que o homem, ao agir, o deve fazer em vista do bem honesto para que sua ação seja moralmente boa.
No que se refere aos bens úteis, claro está que por sua mesma natureza são orientados para outro objeto ou para um fim ulterior. É este objeto ulterior buscado que definirá ou dará a malícia ou a bondade do bem útil, ou seja, se o fim último almejado for realmente um bem, o meio para alcançá-lo é também racionalmente ou moralmente bom; caso contrário, se o fim último for mau, o meio empregado para conseguí-lo será moralmente mau.
Quanto ao bem deleitoso ou bens deleitosos, podem estes ser direcionados ou encaminhados para um fim ulterior, como também podem não o ser, e neste último caso, são visados em si e por si mesmos. A pessoa, então, neste caso, busca o prazer pelo prazer. Ora, aí surge a questão se é lícito agir tendo em vista unicamente o gozo ou o prazer. A Filosofia, e sobretudo a Ética, ensina taxativamente que nunca se é permitido agir por causa de um prazer desonesto, contrário à razão e à moral.
Quanto a agir em vista de um prazer honesto, agir apenas por causa deste prazer, também a Ética ensina que não é suficiente para justificar a atividade humana. E a razão disto é que o prazer é algo que está anexado a certas atividades ou ações humanas com a finalidade de as estimular e facilitar, e por este motivo, o prazer não é absoluto, não pode ser moralmente visado em si mesmo independentemente da finalidade do ato ao qual está anexado. Somente dentro da perspectiva de uma finalidade ulterior é que pode o prazer ser desejado legitimamente. O homem que optasse por agir unicamente somente pelo prazer, estaria transformando algo que é meio em um fim, o que é secundário em principal, e por conseguinte, inverteria a ordem dos valores estabelecidos na natureza. Agiria, pois, mal, em desconformidade com a razão.
O que foi dito acima, porém, não significa que alguém, ao agir, deva excluir todo desejo de prazer. Claro que uma pessoa pode licitamente aspirar ao deleite que está anexo a determinada função da natureza, mas desde que considere e deseje esse deleite ou prazer como fim intermediário, subordinado a um fim ulterior honesto. O erro ou o mal só começa quando o homem faz do deleite o fim ou o objetivo em última análise visado pelo seu ato. É tanto um mal isto, que basta pensar que o homem que assim age, se animaliza, isto é, se adequa, iguala aos animais que ao agirem só o fazem em vista do deleite, do bem que lhe causa prazer.
Na hierarquia dos bens, portanto, o bem honesto está no píncaro, e a ele se devem dirigir os dois outros bens, o útil e o deleitoso, para que seja conservada a harmonia vigente no Mundo.
Paulo Barbosa.
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