Os escravos, na Antiguidade, eram tidos por entes ou seres que não participavam da natureza humana, ou seja, não possuíam personalidade. Eram res, non persona, coisa, não pessoa. A maior parte do trabalho naquele tempo era executado por eles, mas nunca eram proprietários dos frutos de seu labor. Recebiam o pecúlio, pequeno rebanho que se lhe concedia como um estimulante do trabalho e a comida.
Os filósofos antigos, entretanto, justificavam a escravidão como algo decorrente da natureza, com o argumento de que servia ou era útil não só ao senhor como também ao escravo. Aristóteles a considerava como uma das divisões naturais da sociedade, semelhante à divisão entre homem e mulher. Segundo o Filósofo, existem homens 'que naturalmente são dispostos a mandar' e homens 'que naturalmente são dispostos à obediência' e é graças à união que 'ambos podem sobreviver'. Por esse motivo conclui que a escravidão 'é vantajosa tanto para o senhor quanto para o escravo' (Política, I, 2, 1552 a).
Com o advento do Cristianismo a concepção de ser a escravatura algo natural mudou e Santo Tomás de Aquino é enfático quando declara "que um homem seja escravo e outro não, é coisa que, de um ponto de vista absoluto, não tem razão natural, mas só razão de utilidade, porquanto é útil ao escravo ser governado por um homem mais prudente, e é útil a este último ser auxiliado pelo escravo" (Suma Teológica II, 2, q. 57, a. 3, ad 2º). Não é natural ou decorrente da natureza o ser escravo, portanto, mas pode ser útil e para ambos, onde prestam-se auxílio mútuo, segundo o Aquinate.
Paulo Barbosa.
Um comentário:
Só uma pequena correção:
A palavra que St Tomás utiliza é servo, que é diferente de escravo. A escravidão (privação total da liberdade) St Tomás condena.
Pode-se observar como ele utilizava a palavra "servo" neste link:
http://www.corpusthomisticum.org/sth3057.html
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